Vinícola Guaspari e o Nascimento de Uma Região Vinícola

Segunda-feira, 31 de outubro de 2016

No início de 2015 fui apresentado a uma nova vinícola, Guaspari, que produzia, na época, três vinhos, um Sauvignon Blanc e dois Syrahs de vinhedos diversos, todos de alta qualidade.


Na época degustei o Guaspari Sauvignon Blanc 2012 (ainda com um estilo frutado, e completamente diverso na safra seguinte de 2013, a atual no mercado), o Guaspari Syrah Vista do Chá 2011 e o Guaspari Vista da Serra 2011. Recordo-me o quanto fiquei impressionado com os vinhos, em especial os tintos.

No entanto, o que mais me chamou a atenção não foi a alta qualidade dos vinhos, nem o fato da vinícola ser localizada no Estado de São Paulo. Supreendeu-me o fato que a Guaspari não era apenas mais uma vinícola com equipamentos e equipe de primeira. Era muito mais: representava o nascimento de toda uma região vinícola,.Espirito Santo do Pinhal, em São Paulo, perto da divisa com Minas Gerais e aos pés da Serra da Mantiqueira.


O projeto teve início em 2001, quando a família Brito (Guaspari é o outro sobrenome da matriarca da família) adquiriu duas fazendas de café em Espírito Santo do Pinhal atraída pela paisagem da região que muito lembra os campos da Toscana.

Buscando mudas de videiras para fins ornamentais, a família conheceu em 2002 o pesquisador Murillo de Albuquerque Regina, que lhes forneceu as primeiras mudas, e, verificando o solo granítico muito similar ao do Rhône em grande parte da propriedade, surgiu a ideia de montar uma vinícola nos cerca de 800 hectares das duas fazendas.


Em 2006 foram plantadas as primeiras videiras e a vinícola Guaspari iniciou estudos para identificar os micro terroirs locais e as melhores castas para cada um deles.


A partir daí a Guaspari construiu suas instalações (2008) e montou uma equipe de primeira linha: Paulo Macedo, português, agrônomo sênior e que trabalhou durante os últimos 12 anos no grupo Symington; Cristian Sepúlveda, chileno, enólogo residente com passagens por diversas vinícolas como Concha y Toro, Santa Rita (Chile), Kendall Jackson (Califórnia), Château Mas Neuf (Vale do Rhône), dentre outras; e, at last but not least, Gustavo Gonzalez, californiano proprietário da vinícola Mira (Carneros, Napa, Califórnia), enólogo sênior e que trabalhou durante 17 anos na Robert Mondavi Winery e também na Tenuta dell’Ornellaia, na Toscana.

Um ponto interessante no projeto reside na transferência da safra para o inverno por meio da técnica da dupla poda (poda-se uma segunda vez em dezembro as vinhas adiando a floração), evitando-se a colheita entre o final de janeiro e o início de março, quando o clima é muito quente na região, tanto de dia quanto à noite. Com isso a colheita começa - dependendo da variedade - no final de maio se estendendo até julho. Nessa época, os dias são quentes, e as noites frias, com boa amplitude térmica, insolação e ausência de chuvas. Condições muito similares às de grandes zonas vinícolas.


A Guaspari conta hoje com cerca de 50 hectares de vinhedos e mantém atualmente vinhas com as seguintes variedades: Syrah, Pinot Noir, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Sauvignon Blanc, Chardonnay , Viognier, Petit Verdot, e Muscat. Há ainda oliveiras, macadâmias e, claro, cafezais.


Cada vinhedo é chamado de “Vista”(Vista da Serra, Vista do Chá, Vista do Bosque, Vista da Mata, Vista do Vale, Vista do Lago etc...), cada qual com sua cepa predominante, de acordo com as características do terroir, variando as localizações entre 700 e 1300 metros de altitude.

Hoje além dos Guaspari Sauvignon Blanc (atualmente na safra 2013) e Syrahs Vista da Serra e Vista do Chá (ambos na safra 2014), a vinícola comercializa os vinhos de entrada Vale da Pedra Tinto e Vale da Pedra Branco, elaborados respectivamente com a Syrah e com a Sauvignon Blanc, ambos da safra 2015. Há ainda o Guaspari Rosé, elaborado com a Syrah (safra 2015).


Agora no final de novembro a vinícola lançará o Guaspari Viognier Vale do Bosque 2015, um belíssimo vinho, no melhor estilo dos Condrieu, e que tivemos a oportunidade de degustar em primeira mão em setembro passado junto com os Guaspari Syrahs Vista da Serra e Vista do Chá safra 2014.

 

Há ainda nos planos da vinícola o possível lançamento em 2017 de um Chardonnay e de um tinto ultra premium com assemblage de Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon (talvez até dois tintos, cada um com uma das Cabernet prevalecendo, como me contou o enólogo Gustavo Gonzalez).


Já tendo tido a oportunidade de degustar as safras 2011, 2012, 2013 e 2014 do Guaspari Vista do Chá, e as safras 2011, 2013 e 2014 do Guaspari Vista do Serra, além dos demais vinhos já lançados da vinícola, inclusive em idade distintas, não receio em afirmar que a qualidade vem se mantendo safra a safra, com vinhos de excelente potencial para guarda (os Vistas); trata-se de um novo capítulo do vinho brasileiro.


Se você ainda tinha dúvidas sobre o potencial do vinho brasileiro, é hora de repensar isso... Saúde!


Fotos cedidas pela Guaspari, à exceção da sétima e da última.

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