Merlot & Sideways

Segunda-feira, 07 de maio de 2012

Conheço diversas pessoas que afirmam categoricamente ser a Pinot Noir a sua uva preferida, porém não sabem dizer exatamente qual estilo de vinho com a Pinot Noir gostam, de qual região e assim por diante. Simplesmente gostam de Pinot Noir.

A Pinot Noir produz estilos variadíssimos de vinhos, bastando lembrar das enormes diferenças entre Borgonhas de pequenas apelações vizinhas. É uma uva, como se diz, difícil, temperamental.


Suspeitando da origem de tal preferência, sempre pergunto, na sequência, se gostam de Merlot, recebendo uma negativa e um olhar de desaprovação pela ousadia da pergunta, quase uma blasfêmia.


Nas festas de fim de ano de 2004, ano de lançamento do filme Sideways, as vendas de vinhos de Pinot Noir, endeusada no referido filme, cresceram 20% nos Estados Unidos.


Já as vendas de vinhos feitos com Merlot, uva hostilizada no filme Sideways pelo personagem Miles, caíram drasticamente.


Sideways abriu, sem a menor sombra de dúvida, e esse é seu grande mérito, o universo dos vinhos a diversos consumidores. Entretanto, muitos, principalmente viticultores, culparam o filme pela derrocada da popularidade da Merlot e o crescimento da preferência pela Pinot Noir.

 

Nas décadas de 1980 e 1990, a Merlot era uma das uvas mais cultivadas na Califórnia, e seus vinhos um dos preferidos no mercado norte-americano, o primeiro em consumo do mundo, e o quarto em produção.


O resultado de tamanha popularidade, combinada com a ganância de muitos produtores, foi o plantio em larga escala, desordenado, sem grande preocupação com o local adequado, da Merlot, surgindo muitos vinhos medíocres.  


O filme Sideways, porém, não foi, como muitos pensam, o início da ruína da Merlot, mas sim o golpe final, um protesto contra o vinhos medíocres a base de Merlot que vinham inundando o mercado na época.


Basta lembrar que o personagem Miles tinha como vinho ícone, no livro do qual se originou o filme Sideways, o Château Petrus (hoje 100% Merlot), e no filme o vinho ícone era o Château Cheval Blanc (Merlot e Cabernet Franc, esta última também hostilizada no filme).


Hoje a Merlot ainda sofre com o “efeito Sideways”, estigmatizada em todo mundo, à exceção principalmente da França (os franceses não se preocupam com a uva ao escolher um vinho, mas sim com a origem).


Nas mãos de produtores competentes e com o conhecimento adequado do terroir, produz, só ou em assemlages, vinhos incríveis, lendários até.


E não é a toa que produtores californianos de alta gama, alguns clássicos outros mais novos, têm buscado elaborar vinhos com a Merlot, inclusive monovarietais.


As subregiões da Califórnia em que a Merlot vem se destacando são Oakville (Napa), Howell Mountain (Napa), Knights Valley (Sonoma), todas AVAs (American Viticultural Aereas) dentre outras. Produtores como Shafer, Beringer, Pride Mountain Vineyards, Duckhorn produzem vinhos incríveis só com a Merlot.


Não podemos esquecer de mencionar que na década de 1980 a Merlot ajudou a colocar o Estado de Washington no mapa, que até então era tido como um local muito frio para plantação de vinhedos.


Por fim, sugiro assistir no You Tube um dos melhores vídeos sobre vinhos que assisti ultimamente, com tiradas hilárias e geniais: A Brief History of Merlot (http://www.youtube.com/watch?v=6efO9ReiKQM).


Cheers! Sláinte!


Mais sobre Sideways aqui, aqui e aqui.

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