Segunda-feira, 28 de abril de 2025
A Espanha é o país com a maior área de vinhedos plantados e terceiro produtor de vinhos em volume. Possui uma ampla variedade de castas e diversos estilos de vinhos, dos espumantes aos vinhos fortificados, passando pelos vinhos tranquilos.
O país mantém um sofisticado sistema de denominações de origem, seguindo o modelo europeu.
Nesse mar de diversidade e qualidade, uma das denominações de origem de maior prestígio é, sem dúvida alguma, a Ribera del Duero, na região de Castilla y León.
A Ribera del Duero ganhou seu status de Denominación de Origen em 1982, alavancada não apenas pelo sucesso dos vinhos da Vega Sicília, mas pelos esforços do enólogo Alejandro Fernández (Bodega Tinto Pesquera).
Desde então, e sobretudo com investimentos maciços na década de 1990, a DO Ribera del Duero cresceu, passando de um pouco mais de uma dezena de produtores no início da década de 1980 para mais de três centenas atualmente.
Embora atualmente produza uma pequena quantidade de vinhos brancos (leia mais aqui) e rosados, a Ribera del Duero é reconhecida por seus potentes vinhos tintos a base de Tinto Fino / Tinta del País (dois nomes locais para a uva Tempranillo), a casta preferencial que deve estar presente nos vinhos tintos em uma proporção mínima de 75% (na prática muitos produtores elaboram vinhos monovarietais). As uvas tintas Garnacha Tinta, Malbec, Cabernet Sauvignon e Merlot são autorizadas em proporções menores. E a Albillo Mayor, a única uva branca autorizada na DO, pode ser incorporada em até 5% nos cortes dos vinhos tintos.
Dentre as diversas vinícolas que surgiram na região na virada do século, um dos destaques foi a Aalto. Fundada em fevereiro de 1999 por Mariano García Fernández e Javier Zaccagnini, com posterior entrada na sociedade das famílias Masaveu e Nozaleda em 2006, a Aalto sempre teve por objetivo elaborar vinhos que refletissem um conjunto dos melhores terroirs da Ribera del Duero (seus vinhos tintos são elaborados a partir de vinhas localizadas em diferentes subzonas da DO).
Enólogo da 1968 a 1998 da mítica Vega Sicília, Mariano García Fernández além de fundador da Aalto, exerce, desde o início, as funções de diretor técnico e de enólogo da vinícola.
Incialmente, entre 1999 e 2004, a Aalto utilizava instalações alugadas em Roa (província de Burgos). Em 2005, inaugurou sua adega própria em Quintanilla de Arriba (província de Valladolid). Em 2016 foi inaugurada uma segunda parte da planta da vinícola, e atualmente se encontra em construção ao lado da planta principal uma adega destinada apenas à elaboração de vinhos brancos.
Atualmente a Aalto possui e arrenda cerca de 130 hectares de vinhedos com vinhas velhas (idades ere 40 e 100 anos) plantadas com a uva Tinto Fino (nome local para a Tempranillo) e que correspondem a cerca de 200 parcelas diferentes. Os vinhedos, cada qual com suas características próprias, localizam-se em diversos pontos da Ribera del Duero: Quintanilla de Arriba, La Aguilera, Fresnillo, Valbuena de Duero, Moradillo, Baños de Valdearados, Piñel de Abajo, La Horra-Roa.
A Aalto produz regularmente três vinhos, dois tintos 100% Tinto Fino (o Aalto PS, seu primeiro vinho; e o Aalto, o segundo vinho) e um branco (Aalto Blanco de Parcela Fuente de las Hontanillas) elaborado com a Verdejo completada por um pouco de Godello e Albillo Mayor, e classificado como Vino de la Tierra de Castilla y León (pelas regras da DO Ribera del Duero os brancos somente podem ser 100% Albillo Mayor). Soma-se a esses o Aalto 20th Anniversary Limited Edition, um blend das safras 2016, 2017 e 2018, uma edição limitada elaborada a partir de apenas 6 barricas de 225 litros, com uma produção total de apenas 450 garrafas de 3 litros.
Em junho do ano passado, em viagem pela Ribera del Duero, tive a oportunidade de visitar a Aalto. Vinha provando os vinhos da Aalto desde 2017, quando, em uma das aulas do WSET Level 3 em Lisboa, degustei um Aalto 2015. Esse vinho foi impactante na época e a vinícola entrou no meu rol de preferidas desde então.
Em uma manhã ensolarada, seguimos por uma estrada vicinal, passando por vários vinhedos, e avistamos ao longe o moderno prédio da Aalto, que parecia se integrar harmoniosamente com a paisagem. Detivemo-nos ali por alguns minutos para apreciar a paisagem e, só então, nos dirigimos para a recepção da bodega.
Recebeu-nos simpático Eduardo Ferrín, Director General da Aalto Bodegas y Viñedos. Eduardo nos explicou a história da vinícola e a filosofia na elaboração dos vinhos Aalto.
Visitamos as instalações, com a sala das cubas, e depois as salas de barricas e, por fim, a cave que guarda os vinhos Aalto de todas as safras.
O grand finale foi uma degustação dos três incríveis vinhos da Aalto:
• Aalto Blanco de Parcela Fuente de las Hontanillas 2022: em sua quarta safra, produzido com a uva verdejo completada por um pouco de Godello e Albillo Mayor, com uvas majoritariamente oriundas da parcela Fuente de las Hontanillas, em Quintanilla de Arriba, na província de Vallodolid. Um vinho fresco, com acidez média +, com notas de maçãs, casca de limão siciliano, pomelo, o que se confirma no palato. Vinho com um longo e persistente final, que irá evoluir muito bem nos próximos anos.
• Aalto 2021: um vinho imbatível na relação custo-benefício, acessível desde jovem, mas com boa capacidade para evoluir em garrafa nos próximos anos. 100% Tinto Fino de vinhas velhas, com idade entre 40 e 80 anos, e de várias localidades da Ribera del Duero (províncias de Valladolid e Burgos). Colheita feita exclusivamente a mão, e com passagem em barricas de usos diversos de carvalho francês e americano por 17 meses. Apresenta frutas vermelhas no nariz (groselha, framboesas), toques de especiarias, com destaque para o alcaçuz, e pimenta preta, o que se confirma em boca. Acidez média, taninos médios +, encorpado, em um conjunto harmônico. Final longo e persistente.
• Aalto PS 2021: 100% Tinto Fino de uvas oriundas de vinhas velhas, com média de 60 a 90 anos de idade dos vinhedos de La Horra e La Aguilera. Com colheita exclusivamente manual, estágio de 20 meses em barricas novas de carvalho francês, o PS é um vinho complexo e memorável. Apresenta no nariz frutas pretas (cassis, ameixa, groselha) e especiarias como cravo e alcaçuz, e, ao fundo, algumas notas terrosas, o que se confirma no palato. Acidez média, taninos sedosos e aveludados e encorpado, em um conjunto perfeito. Com longa capacidade de guarda, um vinho que safra a safra se firma com um dos grandes vinhos da Ribera del Duero.
Uma visita inesquecível e cujo único arrependimento que guardo, por conta de espaço na mala, foi não ter comprado mais garrafas dos vinhos.
¡Salud!