Terça-feira, 23 de julho de 2024
Existem na Espanha, país com a maior área plantada com vinhedos do mundo, mais de 200 uvas diferentes, predominando os vinhos tintos.
No entanto há, nos últimos anos, um crescente interesse nos vinhos brancos espanhóis. Produtores espanhóis, com melhor domínio sobre técnicas de viticultura e enologia, vêm focando na elaboração de vinhos brancos com uvas autóctones, como, por exemplo, a Albariño na Rías Baixas, a Godello em Valdeorras e em Monterrei, a Verdejo em Rueda, dentre outras. Até mesmo a Airén – a uva mais plantada da Espanha e destinada primordialmente para elaboração de destilados - começa a brilhar em vinhos brancos monovarietais.
A Ribera del Duero, a mais célebre das denominações de origem da região de Castilla y León e reconhecida por seus vinhos tintos, recentemente passou a autorizar a produção de vinhos brancos, resgatando uma uva até então destinada ao ostracismo, quiçá à extinção, a Albillo Mayor.
Copyright CRDO Ribera del Duero
Copyright CB The Wine Hunter
A Ribera del Duero ganhou seu status de Denominación de Origen em 1982, alavancada não apenas pelo sucesso dos vinhos da Vega Sicília, mas pelos esforços do enólogo Alejandro Fernández (Bodega Tinto Pesquera). Ele apostou, na década de 1970, na elaboração de vinhos exclusivamente com a uva tinta Tinto Fino / Tinta del País (dois dos nomes locais para a Tempranillo) de seus vinhedos em Pesquera del Duero.
Copyright CB The Wine Hunter
A partir daí, e sobretudo com investimentos maciços na década de 1990, a DO Ribera del Duero cresceu, passando de um pouco mais de uma dezena de produtores no início da década de 1980 para mais de três centenas atualmente.
Até o início da década atual, a Ribera del Duero produzia apenas vinhos tintos e rosados.
A uva principal e preferencial sempre foi a Tinto Fino / Tinta del País (Tempranillo) em proporção mínima de 75% nos vinhos tintos (na prática muitos produtores elaboram vinhos monovarietais). As uvas tintas Garnacha Tinta, Malbec, Cabernet Sauvignon e Merlot são autorizadas em proporções menores. E a Albillo Mayor, a única uva branca autorizada na DO, pode ser incorporada em até 5% nos cortes dos vinhos tintos.
Copyright CB The Wine Hunter
Copyright CB The Wine Hunter
Já nos vinhos rosados, o regulamento prevê que 50% do corte deva ser com uvas tintas autorizadas, podendo ser complementado pela Albillo Mayor, os chamados Claretes.
Em 2019, o Consejo Regulador da DO Ribera del Duero introduziu os vinhos brancos, elaborados com a Albillo Mayor.
Copyright CRDO Ribera del Duero
A Albillo Mayor - também conhecida como Albilla, Pardina ou Turruntés (não confundir com a Torrontés) - detém importância histórica na Ribera del Duero. Não raro “co-plantada” ou plantada misturada (fied blend) com a Tinto Fino (Tempranillo). Os vinhedos com a Albillo Mayor – cerca de 500 hectares de um total de 23.000 hectares de vinhedos plantados na DO – são antigos e têm em média 50 anos.
A Albillo Mayor é uma uva de brotamento e amadurecimento precoces, com bagos de pequeno a médio tamanho, com cascas finas. Trata-se de uma uva resistente a doenças, de baixo rendimento, originando vinhos de cor dourada, encorpados, aromáticos, de baixa a média acidez e com alto teor alcóolico.
Copyright CB The Wine Hunter
Alguns dos vinhos elaborados com a Albillo Mayor que degustei em recente viagem à Ribera del Duero se mostraram extremamente complexos. Um deles foi o RQT Feliz Albillo Mayor 2019, com fermentação e estágio de 12 meses em barrica, extremamente encorpado, ainda com alguns anos de vida pela frente; e o preferido, o Tinto Pesquera Albillo Mayor 2022, fermentado em barricas de carvalho francês com posterior estágio de 9 meses sur lie. Um vinho ainda jovem e com grande potencial de guarda.
Copyright CB The Wine Hunter
Copyright CB The Wine Hunter
Copyright CB The Wine Hunter
Os vinhos brancos elaborados com a Albillo Mayor ainda são poucos – apenas cerca de 30 produtores dos mais de 300 da DO elaboram esses vinhos – e de produção bem limitada. Difíceis de encontrar até mesmo na Espanha, fora da Ribera del Duero. Porém, valem a procura.
Assim, um novo capítulo se iniciou na DO Ribera del Duero, mostrando que vale à pena apostar em suas uvas autóctones e na sua originalidade.
¡Salud!