Sémillon - Grandes Vinhos Brancos Argentinos


Quarta-feira, 31 de março de 2024.

A Argentina, sempre lembrada por seus tintos especialmente os elaborados com a Malbec - a casta francesa que ali encontrou sua segunda pátria - guarda algumas surpresas para os apreciadores dos bons vinhos.

Além dos vinhos elaborados com a Malbec, a produção argentina tem brindado os enófilos com outros tintos de altíssima qualidade, em especial com a Cabernet Franc, sem esquecer de outras uvas tintas com menos projeção na produção dirigida ao mercado internacional, tais como a Cabernet Sauvignon, a Pinot Noir e a Bonarda. Esta última uma aposta que não alcançou o sucesso desejado e acabou suplantada pela Cabernet Franc. 

No campo dos vinhos brancos, a grande aposta da indústria argentina reside na Torrontés, com suas variantes: Torrontés Riojano, Mendocino e Sanjuanino. O Torrontés Riojano (chamado também de Torrontés Salteño) é o tipo mais plantado na Argentina, um cruzamento natural entre as uvas Muscat de Alexandria e Listán Prieto (cepa tinta espanhola, na Argentina chamada de Criolla Chica).


O Torrontés (Riojano) é uma variedade que tampouco deve ser confundida com as diversas uvas da península ibérica que usam de forma imprecisa o termo Torrontés. 


No entanto, apesar da forte promoção dos vinhos brancos elaborados com a Torrontés e de elegantes vinhos Chardonnay, existem vinhos brancos argentinos, ainda fora do radar, elaborados com uma outra uva branca e que reservam gratas surpresas. Refiro-me à casta Sémillon.


A Sémillon é uma uva branca francesa e a espinha dorsal dos vinhos doces bordaleses afetados pela Botrytis cinerea como os Sauternes e os Barsacs. Ainda em Bordeaux (e.g. AOC Pessac-Léognan), origina vinhos brancos secos, em geral em cortes com a Sauvignon Blanc e, em menor proporção com a Muscadelle.



A Sémillon é uma casta de amadurecimento médio, de vigor moderado. Os rendimentos são variáveis, de acordo com o solo. Adapta-se bem a solos de cascalho e argilo-calcáreos. Em geral, produz vinhos brancos encorpados.


A chegada da Sémillon na América do Sul ocorreu pelo Chile e pela Argentina no fim do século XIX. 


Na Argentina, na década de 1970, a Sémillon passou a ser amplamente plantada, seguindo uma tendência de produzir vinhos brancos em grandes quantidades (e de baixa qualidade). 


Em poucos anos chegou a 5.500 hectares, tornando-se a segunda uva branca mais plantada no país. 

No entanto, por esta época, os vinhos elaborados com a Sémillon não eram de boa qualidade, até mesmo porque os enólogos argentinos não detinham, naquele momento, expertise para a elaboração de vinhos brancos. Eram vinhos oxidados e sem estrutura.  


Nas décadas seguintes, com o boom dos Malbecs argentinos, vinhedos com a Sémillon acabaram sendo substituídos por outras variedades.


Porém, como já há alguns anos os enólogos argentinos dominam com maestria as técnicas para elaboração de vinhos brancos, hoje há um revival da Sémillon. 

Assim, vinhos incríveis com a Sémillon vêm sendo elaborados nos últimos anos na Argentina. 


Na verdade, em especial em Mendoza com seu clima árido, a Sémillon guarda a vantagem de ter boa acidez, o que na região é um problema com vinhos elaborados com outras cepas brancas. Por exemplo, em Mendoza, os enólogos, em regra, evitam fazer a fermentação malolática em vinhos Chardonnay para preservar a acidez. 


Um outro ponto a favor da Sémillon são vinhedos antigos, não raro que estavam abandonados e foram recuperados, produzindo frutos espetaculares, originando vinhos complexos.


Por outro lado, os enólogos têm dado preferência por usar barricas “neutras” (com pouca torrefação) de carvalho francês, leveduras nativas e estágio do vinho em contato com as borras.

Um dos pioneiros em Mendoza na elaboração de vinhos secos com a Sémillon foi Roberto la Mota (Mendel Wines). O Sémillon da Mendel é elaborado com uvas de vinhedos sem enxertia de cerca de 70-80 anos de idade e de diferentes localidades do Valle de Uco (San Carlos, La Consulta e Altamira).

 

Em Mendoza outro vinho espetacular elaborado com a Sémillon é o Zaha, um dos projetos da irrequieta dupla Alejandro Sejanovich e Jeff Mausbach. 


Em Mendoza há ainda vários outros vinhos interessantes elaborados com a Sémillon como Zuccardi Poligonos del Valle de Uco, Certezas de Michelini i Mufatto, Corazón del Sol, Escorihuela Gascón Pequeñas Produciones. 


Entretanto, a “onda” dos vinhos Sémillon não se restringe à Mendoza. Na Patagônia também são produzidos vinhos bem interessantes, como, por exemplo, o Humberto Canale Old Vineyard (de vinhas plantadas em 1942) e o Old Vine Semillon de Matias Riccitelli (com vinhas plantadas no final da década de 1960).


Importante mencionar que nos rótulos dos vinhos argentinos, em regra a Sémillon não aparece com a sua grafia original (usada nesse texto), mas sim Semillon ou com o acento no final, Semillón de forma a indicar a pronúncia em espanhol.


Para encerrar, a melhor notícia de todas. Embora muitos dos vinhos argentinos com a Sémillon sejam difíceis de encontrar fora da sua terra natal lá são relativamente fáceis de encontrar e sempre com preços imbatíveis!


¡Salud!

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