Sexta-feira, 08 de agosto de 2025.
O Sistema de Appellation d'Origine Protégée ou Contrôlée francês, que inspirou sistemas similares na Europa e em outros países do mundo, remonta ao ano de 1924, quando viticultores franceses de Châteauneuf-du-Pape, liderados pelo Barão Pierre Le Roy de Boiseaumarié buscaram criar padrões de produção e delinear a área de produção de seus vinhos.
No ano seguinte, em 1925, após a criação de uma apelação de proteção pelo Governo francês para o queijo Roquefort, o Barão Pierre Le Roy de Boiseaumarié solicitou ao Governo francês a criação de um sistema similar para proteger os vinhos de sua região. E assim, uma década depois, foi criada a primeira Appellation d'Origine Contrôlée francesa, Châteauneuf-du-Pape, seguida de muitas outras, e o INAO – Institut National des Appellations d'Origine Contrôlée, órgão público que cuida das diversas AOPs.
Appellation d'Origine Contrôlée (ou Protégée – termo que segue a padronização europeia atual) é, em síntese, uma área com origem definida a partir da qual um produto – como o vinho – pode ser elaborado com um nome específico e protegido, seguindo regras e métodos específicos.
É o ponto mais alto da pirâmide de qualidade do vinho francês (a base é o “Vins sans IG” ou vinhos sem indicação geográfica; e a categoria intermediária são os vinhos com indicação geográfica protegida também chamados de “Vins de Pays” ou simplesmente IGPs.
Os vinhos de Bordeaux remontam à época dos romanos. Após a Guerra dos Cem Anos, a França recuperou Bordeaux em 1453, expulsando os ingleses. A partir de então, os Países Baixos se tornaram grandes consumidores dos vinhos de Bordeaux, em especial os vinhos brancos secos para destilar em eau de vie, e brancos doces para consumo direto. Tal relacionamento comercial culminou com a drenagem pelos holandeses em 1600 da península do Médoc, aumentando as terras cultiváveis com vinhas e com solos de cascalho.
Em 1935, seguindo o então recém-criado sistema de Appellations d'Origine Contrôlée, Jean Capus dividiu a região vinícola de Bordeaux em 57 AOPs.
Basicamente, podemos classificar as Appellations d'Origine Contrôlée em três categorias:
• Regionais: Bordeaux, Bordeaux Supérieur, Bordeaux Clairet e Bordeaux Rosé;
• Sub-regionais: Médoc, Haut-Médoc, Graves, Entre-Deux-Mares
• Comunais: Margaux, Paulliac, Saint-Emilion, Pomerol, Fronsac, Sauternes, Pessac-Léognan etc...
Cada uma dessas AOPs com regramentos específicos, inclusive tipos de vinhos que podem ser elaborados.
Embora a fama dos vinhos de Bordeaux se deve principalmente aos vinhos tintos, passando naturalmente por vinhos brancos doces com os da AOP Sauternes, também são produzidos espumantes (Crémant de Bordeaux), rosados e vinhos brancos secos.
Após a grande geada de 1956 que dizimou um quarto das vinhas da região, os viticultores que optaram por replantar, o fizeram com castas tintas, relegando os vinhos brancos secos baseados na Sauvignon Blanc e na Sémillon (e em menor parte na uva Muscadelle, dentre outras) a um papel secundário.
Os vinhos brancos secos, nesse contexto, representam hoje apenas cerca de 8% da produção total de Bordeaux, a maior região produtora em volume da França.
Porém, com a atual tendência no aumento mundial de consumo de vinhos brancos, a procura pelos vinhos brancos de Bordeaux tem aumentado exponencialmente.
Nesse cenário, faz muitos anos, Châteaux clássicos da subregião do Médoc (nesta incluídas as AOPs Haut-Médoc, Saint-Estèphe, Paulliac, Saint-Julien, Margaux, Moulis e Listrac) produzem vinhos brancos de alta qualidade, rotulando seus vinhos na mais genérica AOP Bordeaux (note-se que a AOP Bordeaux Supérieur prevê brancos com açúcar residual). As AOCs Médoc e Haut-Médoc, criadas em 1936, deixaram de fora os vinhos brancos, ignorando o fato que desde o século XVIII tais vinhos já eram produzidos no Médoc.
No entanto, após quase uma década desde a sua proposição, recentemente, o INAO – Institut National des Appellation d'Origine Contrôlée aprovou, a contar de 2026, a AOP Médoc Blanc, exclusiva para vinhos brancos produzidos na subregião do Médoc.
As uvas autorizadas permanecem centradas no núcleo do Bordeaux branco tradicional: Sauvignon Blanc, Sauvignon Gris, Sémillon e Muscadelle. Adicionalmente, seis variedades VIFA (Variedades de Interesse para Adaptação) são permitidas: Alvarinho, Liliorila, Viognier, Sauvignac e variedades resistentes a doenças, como Floréal e Souvignier Gris. Algumas uvas que foram cogitadas acabaram por ficar de fora do regramento, como a Chardonnay, a Viognier e a Petit Manseng.
A área de demarcação da AOC Médoc Blanc corresponde a do tinto, englobando as denominações do Médoc (as AOPs Haut-Médoc, Saint-Estèphe, Paulliac, Saint-Julien, Margaux, Moulis e Listrac), o que acarretou uma maior rapidez na validação das especificações, já que se baseia em áreas já reconhecidas.
Outro ponto de destaque é amadurecimento em barricas de carvalho, com um mínimo de 30% do volume, e que tem por objetivo realçar notas cítricas e salinas dos vinhos.
Alguns vinhos brancos de produtores do Médoc: Château Margaux Pavillon Blanc; Mouton-Rothschild Aile d'Argent; Cos d'Estournel Blanc; Blanc de Lynch-Bages; Château Talbot Caillou Blanc, Les Arums de Lagrange, Le Blanc du Château Prieure-Lichine, Tertre Blanc, Alto de Cantenac-Brown, Château Brane-Cantenac Blanc, dentre outros.
Agora é só esperar os novos vinhos com a AOP Médoc Blanc no rótulo!
Santé!