Domingo, 22 de julho de 2025
Faz alguns anos, em 2019, tive a oportunidade de visitar pela primeira vez a Maison Chapoutier, em Tain-l’Hermitage, uma visita inesquecível (relembre aqui).
Em 2020, no auge da pandemia, publiquei um post no Instagram e prometi a mim mesmo que lá retornaria um dia, quando a vida voltasse ao normal.
Os anos passaram, a pandemia ficou para trás como uma amarga memória, e continuei degustando, sempre que tinha a oportunidade, os vinhos da Maison Chapoutier.
Recentemente, em maio passado, enfim retornei à região do Rhône Setentrional e visitei uma vez mais Tain-l’Hermitage e a Maison Chapoutier.
E dessa vez, a convite do meu amigo Simon Debrach, tive a oportunidade de provar vinhos muito especiais, alguns dos míticos vinhos Hermitage/Ermitage de parcelas únicas (“Sélection Parcellaire”) da Maison Chapoutier.
Hermitage/Ermitage, um dos crus da região, é a menor das AOPs do Rhône Setentrional, com apenas cerca de 135 hectares de vinhedos plantados (leia mais aqui).
Junto com a vizinha AOP Crozes-Hermitage, Hermitage/Ermitage é uma das duas únicas apelações do norte do Rhône que se localiza na margem esquerda do rio, com seus vinhedos plantados em encostas íngremes de uma colina com orientação sul.
Hermitage/Ermitage produz vinhos brancos (27% da produção) com as uvas brancas Marsanne e Roussanne, e tintos com a Syrah (a Marsanne e/ou a Roussanne podem ser incorporadas aos tintos na proporção de até 15%, o que, no entanto, é raro hoje em dia.
Com escrevemos em artigo anterior, há um grande debate entre os produtores locais sobre a própria essência dos vinhos da apelação Hermitage/Ermitage: se devem ser elaborados a partir de um único lieu-dit ou de parcela específica dentro do lieu-dit - destacando as diferenças existentes dentro da denominação (a AOP Hermitage/Ermitage é subdividida em 20 lieux-dits, com algumas variações de solos entre eles) - ou a partir de uma combinação de uvas de diferentes parcelas da apelação mantendo um caráter único.
Michel Chapoutier decidiu, décadas atrás, elaborar vinhos Hermitage de parcelas específicas, seus famosos vinhos Sélection Parcellaire, vinhos de produção ínfima e disputados por colecionadores do mundo todo. Para esses vinhos Sélection Parcellaire, a Maison Chapoutier reserva a grafia “Ermitage” sem o “H’. Isso sem deixar de elaborar vinhos com cortes de parcelas diversas da AOP, como seu clássico Hermitage Monier de la Sizeranne.
Nesta recente visita à Maison Chapoutier, degustei os seguintes vinhos:
- M. Chapoutier Hermitage Chante-Alouette 2021 (branco): Chante-Alouette é um dos menores lieux-dits da apelação, com solos de loess com uma fina camada de argila e calcário, plantado apenas com a uva branca Marsanne. Aromas de marmelo, noz, mel, o que se confirma em boca, com um final persistente.
- M. Chapoutier Ermitage De L’Orée 2014 (branco): De L’Orée é uma pequena parcela de vinhas velhas (60 a 70 anos) com baixos rendimentos e oriunda do lieu-dit Les Murets plantado exclusivamente com a uva branca Marsanne. Os solos são constituídos por areia granítica e depósitos aluviais da mesma natureza. Intenso no nariz, com notas floras, limão, casca de laranja confitada, acácia e um toque de caramelo. No palato se mostra um vinho encorpado, com frutas maduras como damasco seco, compota de críticos, noz-moscada, mel, e um toque de nozes e de avelãs, com um final extremamente longo. Um vinho espetacular que demonstra a grande complexidade e potencial de guarda dos brancos de Hermitage/Ermitage!
- M. Chapoutier Hermitage Monier de La Sizeranne 2020 (tinto): É elaborado a partir de parcelas selecionadas dos lieux-dits Les Bessards (solos graníticos), Le Méal (solos calcários com pedras redondas) e Les Greffieux (solos aluviais e argilosos). No nariz apresenta frutas pretas e especiarias como alcaçuz. No palato segue o nariz, apresentando ainda notas apimentadas e taninos macios. Um clássico!
- M. Chapoutier Ermitage Le Pavillon 2010 (tinto): Le Pavillon é uma parcela única dentro do lieu-dit Les Bessards (solos predominantemente graníticos) com vinhas de 90-100 anos com baixo rendimento. No nariz, apresenta notas de frutas pretas, de grafite (m destaque) e notas balsâmicas (mentol e eucalipto). No palato, o nariz se confirma, com notas de café e chocolate amargo, com taninos extremamente aveludados e leves notas vegetais. Um final longo, um vinho intenso e apesar dos 15 anos ainda com muita estrada pela frente, inesquecível.
- M. Chapoutier Ermitage L’Ermite 2010 (tinto): Ermite é uma parcela única dentro do lieu-dit Les Grandes Vignes plantada com vinhas velhas de 80 anos em média em solos graníticos. Um “textbook” Hermitage/Ermitage, com frutas pretas e especiarias no nariz. Na boca, segue o nariz, com notas defumadas e apimentadas típicas da Syrah plantada em solo granítico. Taninos aveludados e com longo final. Mais um vinho inesquecível!
Uma experiência incrível, que só reforça minha predileção pela uva Syrah e pelos vinhos do Rhône Setentrional!
Santé!