Dois Vinhos Uruguaios Surpreendentes - Bodega Garzón


Terça-feira, 15 de agosto de 2023

Recentemente, tive o privilégio de participar do pré-lançamento no Rio de Janeiro do Garzón Balasto 2020, o vinho ícone da uruguaia Bodega Garzón, evento conduzido pelo chileno Christian Wylie, CEO da vinícola, que nos brindou não apenas com vinhos espetaculares, mas sobretudo com detalhes, fatos e curiosidades da Gárzon. 


Em geral, a esmagadora maioria das vinícolas no Uruguai se localiza em Canelones, nos arredores de Montevideo. A Bodega Garzón, entretanto, se situa nas cercanias de um vilarejo de mesmo nome, no departamento de Maldonado, a cerca de 70 km de Punta del Este e a alguns km do balneário de José Ignácio.


O ambicioso projeto foi iniciado em 2006 quando o bilionário argentino Alejandro Bulgheroni, já proprietário das vinícolas argentinas Vistalba e Argento, comprou os 2200 hectares onde hoje está a Garzón.


Em 2007 o célebre enólogo italiano Alberto Antonini foi contratado para desenvolver o projeto, identificando ali algumas semelhanças com a Galícia, sugerindo alguns estudos e experimentos locais. Alejandro Bulgheroni decidiu à época que não tinha tempo a perder com experimentos e desejava desenvolver logo vinhedos no local, apostando no potencial do lugar. E ele tinha razão.


Foto cedida pela World Wine

Foto cedida pela World Wine

Antonini ali identificou solos constituídos por rocha granítica decomposta com excelente drenagem e variedade de minerais, (solo localmente chamado de "Balasto"), a influência do vizinho oceano Atlântico, uma série de variações de exposições e microclimas, aliados a uma diversificada biodiversidade (Christian Wylie me contou já ter se deparado com um avestruz no meio dos vinhedos).


Foram então plantadas as vinhas da Garzón, na verdade uma série de vinhedos, com exposições distintas (e.g. os de Albariño e de Sauvignon Blanc estão voltados ao sul, buscando maior frescor; os de Pinot Noir ao leste buscando um meio-termo com resfriamento marítimo; os de Tannat ao norte etc.). São mais de 1000 parcelas, com qualidades e características próprias. Uma verdadeira riqueza vitivinícola, originando uma grande variedade de vinhos, alguns cortes de uvas de vinhedos distintos, outros de vinhedos específicos, e até mesmo de parcelas específicas. 


Foto cedida pela World Wine

Dentre os diversos vinhos da Bodega Garzón, um deles se destaca, o Garzón Balasto 2020, o flagship wine da vinícola, que tem a credencial de ser o único vinho uruguaio negociado na Place de Bordeaux (desde 2017), além de suas altas notas, safra a safra, conferidas pela crítica especializada.


O nome do vinho, Balasto, faz menção aos solos de rocha granítica prevalecentes nos vinhedos da Garzón. A primeira safra foi em 2015, seguida de 2016, 2017 e 2018. Não houve lançamento na safra de 2019, entendendo-se que a safra não foi boa para as uvas que até então compunham o Balasto (Tannat, Cabernet Franc, Petit Verdot e Marselan). 


Foto cedida pela World Wine

Foto cedida pela World Wine

Na safra 2020 do Balasto – 2020 é considerada a melhor safra da Garzón até hoje - a uva Marselan não entrou no assemblage. Indaguei a Christian Wylie a razão, e ele me explicou que realizaram diversas provas e ensaios para definir o blend do Balasto 2020 com a Marselan. Porém, na safra 2020 a Marselan apresentava aromas e sabores de ameixas (ameixas frescas, e não de ameixas pacificadas) que, mesmo em percentuais mínimos como 0.5% no corte se sobressaiam sobre as demais do conjunto, sem qualquer harmonia. Então, Alberto Antonini decidiu retirar a uva do corte final, que ficou com 42% Tannat, 39% Cabernet Franc e 19% Petit Verdot.


A fermentação do Garzón Balasto 2020 ocorre em tanques de concreto de 80 HL (Antonini sempre opta por usar concreto e não aço inoxidável em seus vinhos) com estágio de 20 meses em grandes tonéis de carvalho francês (25 e 50 HL) de usos variados e sem qualquer tosta, evitando-se influência e até sobreposição do carvalho nos vinhos. 


Embora jovem, em especial para um vinho de guarda, o Garzón Balasto 2020 já se mostra acessível (recomendaria provar um agora e guardar outra garrafa para daqui a uns 10 anos), com taninos macios, notas de cerejas e amoras negras, um toque de tabaco, extremamente elegante, com um final persistente.


O lançamento oficial do Garzón Balasto 2020 ocorrerá dia 12 de setembro desse ano, na Place de Bordeaux. 


Apesar do Garzón Balasto 2020 ser a grande estrela da noite, um outro vinho muito especial da vinícola também brilhou no evento: o Garzón Petit Clos Block 87 Pinot Noir 2019. 


Um Pinot Noir de parcela única, no caso o Block 87, extremamente elegante, bem estruturado, com frutas vermelhas como cerejas e morangos, leves notas florais e com boa acidez e taninos macios. 


O Petit Clos Block 87 Pinot Noir fermenta em tanques de concreto de 80 HL, e tem um estágio de 12 meses em grandes tonéis (25 HL) de carvalho francês de uso diverso e sem tosta. 

Apesar do solo distinto dos da Borgonha (granito, balastro x calcário e margas ricas em calcário), o vinho me lembrou muito os tintos da Côte de Nuits, até pela sua estrutura.

Segundo me disse Christian Wylie, um vinho de pequena produção, cerca de 2500 garrafas, em geral vendidas apenas na vinícola, porém com algumas garrafas disponíveis para venda no Brasil.

Dois vinhos espetaculares, mostrando o potencial dos vinhos uruguaios, muito além de Tannats puros e robustos.

¡Salud!

Comentários (Respostas)