As Uvas Esquecidas de Champagne

Terça-feira, 18 de julho de 2023

Os vinhos de Champagne são, em sua esmagadora maioria, elaborados com três uvas principais: Pinot Noir (a mais plantada), Pinot Meunier e Chardonnay. Em geral, apenas estas três castas são mencionadas como as uvas de Champagne.


No entanto, nem sempre foram essas as castas reinantes em Champagne.

Nos primórdios, entre os séculos IX e XVI, as castas de Champagne eram a Fromenteau, nome local da Pinot Gris, e a Gouais, em suas variações Blanc e Noir.

 

Até o início do século havia uma miscelânea de uvas plantadas nos vinhedos de Champagne: Pinot Blanc (e suas derivações como Bon Blanc, Epinette, Petit Blanc), Arbanne, Petit Meslier, Chardonnay (brancas), Chasselas Rouge, Morillon, Gamay, Enfumé Noir, Pinot Noir e Pinot Meunier (tintas).


Posteriormente, o cahier des charges da AOC, o regramento da apelação, passou a admitir apenas Pinot Noir (a mais plantada), Pinot Meunier, Chardonnay e mais quatro castas Fromenteau (Pinot Gris), Blanc Vrai (Pinot Blanc), Arbanne e Petit Meslier, raramente utilizadas.


Essas “uvas esquecidas”, Fromenteau (Pinot Gris), Blanc Vrai (Pinot Blanc), Arbanne e Petit Meslier, acabaram em desuso, por serem cepas mais difíceis de plantar e cultivar.

 

Porém, alguns produtores não desistiram e insistiram em plantar essas “uvas esquecidas”, resgatando-as do ostracismo.


Foto cedida pela World Wine e pela Mason Drappier

Um dos produtores precursores no resgate das “castas esquecidas” de Champagne foi a Maison Drappier. Há uns 20 anos, Michel Drappier decidiu replantar essas uvas quase esquecidas em Champagne.


Após alguns anos, a Maison Drappier lançou em 2007 o Champagne Quattuor, um original Blanc de Blancs em que a Chardonnay (25%) é escoltada pelas uvas Arbane (25%), Petit Meslier (25%) e Blanc Vrai (25%), vinho este já em sua quarta edição.

Posteriormente, em 2019, a Maison Drappier lançou o Champagne Trop m’en Faut (100% Fromenteau).


Hoje, a Maison Drappier conta com 3,5 hectares de vinhedos plantados com as variedades Fromenteau (Pinot Gris), Blanc Vrai (Pinot Blanc), Arbanne e Petit Meslier, e é uma das principais guardiãs dessas “castas esquecidas” de Champagne.

Foto cedida pela World Wine e pela Mason Drappier

Outro pioneiro no resgate das “uvas esquecidas” de Champagne foi o produtor Jean-François Launay, que ao assumir a vinícola de seu pai no ano de 1956 encontrou algumas videiras de Petit Meslier. A partir de então seu interesse pelas uvas ancestrais de Champagne cresceu e, além de aumentar as videiras de Petit Meslier, ele plantou videiras de Fromenteau (Pinot Gris) e Arbanne.


L. Audry Fils é outro produtor de destaque no resgate das “uvas esquecidas” de Champagne, com suas cuvées especiais elaboradas com a Fromenteau (Pinot Gris), Arbanne e/ou Petit Meslier (e.g. Le Nombre d’Or, Sablé Blanc des Blancs).


 


Foto cedida pela World Wine e pela Mason Drappier

Além dos produtores mencionados, há outros pequenos e médios produtores que utilizam as “uvas esquecidas” de Champagne, como Laherte Frères, Agrapart, Tarlant, René Geoffroy, Janisson Baradon et Fils (Janisson-Baradon 7 Cépages Rosé), Piollot (Piollot Cuvée Colas Robin Brut Nature – 100% Pinot Blanc), Olivier Horiot (com seu Soléra elaborado com as 7 uvas de Champagne), Bonnet-Ponson (Petit Mlenage 7 Grapes Brut Nature Bio), dentre outros tantos.

Recentemente, aprovou-se, em caráter experimental, a uva Voltis para uso em Champagne. Essa oitava uva é uma variedade híbrida, criada no âmbito de um projeto franco-alemão que busca novas variedades de uvas resistentes a doenças, como o oídio. Essa variedade poderá compor até 10% do assemblage e sua qualidade será analisada nos próximos anos, podendo ao final do prazo experimental ser definitivamente autorizada ou descartada. E a Maison Drappier já anunciou que pretende plantar essa “oitava” variedade.


Santé!  

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