Sexta-feira, 11 de outubro de 2024
A região produtora de vinhos da Rioja, uma das mais conhecidas da Espanha, juntamente com o Priorato, detém o nível mais alto das apelações de origem espanholas, qual seja, Denominación de Origen Calificada (DOCa).
Para se chegar a tal subcategoria, a região deve ter mantido o status de Denominación de Origen (DO) por um mínimo de dez anos e os vinhos devem ser produzidos e engarrafados dentro da região. Há ainda um outro critério: os vinhos devem, em média, custar pelo menos o dobro da média nacional dos preços dos vinhos de DOs.
O cultivo da vinha na Rioja foi introduzido pelos Fenícios, e posteriormente os conquistadores romanos, como costumavam fazer, trouxeram novas videiras. Posteriormente, os Visigodos conquistaram a região e depois acabaram conquistados pelos Mouros (Século VIII). Posteriormente, com a Reconquista da Península Ibérica, o cultivo da vinha, na Idade Média, acabou a cargo de monges, que usavam o vinho para fins litúrgicos.
Em 1560, com a popularidade dos vinhos da Rioja, houve de forma pioneira a imposição de alguns regramentos para proteger a reputação dos vinhos da região, como a proibição do uso de uvas de fora da Rioja e o transporte do vinho em recipientes específicos e vedados com um selo especial para garantir sua autenticidade.
Em 1787 surgiu a Real Sociedad Económica de Cosecheros de Rioja com o objetivo de zelar pela qualidade e pela reputação dos vinhos da região, passando a monitorar cultivo, produção e exportação.
Ainda no Século XVIII, o enólogo Manuel Quintano traz para a Rioja o método bordalês de amadurecimento dos vinhos em barricas de carvalho francês. Porém, pelos altos custos na época, o método não se popularizou.
O Século XIX teve grande importância para o vinho na Rioja por conta de diversos acontecimentos. Primeiro, durante as chamadas “guerras carlistas” (1833-1876) dois aristocratas espanhóis se exilaram em Bordeaux, retornando anos depois com novas técnicas de viticultura e enologia, compartilhando seus conhecimentos e retomando-se o uso de barricas de carvalho francês de 225 litros.
Nas décadas de 1850 e 1860, a França sofre com o oídio e a phylloxera, acarretando um aumento das exportações dos vinhos da Rioja para a França e a vinda de produtores franceses para a região. A phylloxera chegaria à Rioja anos mais tarde, no fim da década de 1890, quando a solução já era conhecida, causando danos menores.
Por fim, em 1880 é inaugurada uma ferrovia ligando Haro, capital da Rioja, a Bilbao, na costa norte, facilitando a exportação de vinhos.
No século seguinte, em 1925, a Rioja se torna oficialmente uma Denominación de Origen, uma das primeiras do país, instituindo-se no ano seguinte o primeiro selo de autenticidade para seus vinhos.
No final da década de 1979 e durante a década de 1980 surgem as regras próprias de amadurecimento dos vinhos e produção.
Em 1991, a Rioja recebe o Denominación de Origen Calificada (DOCa).
A DOCa Rioja, apesar do nome, não deve ser confundida com a Comunidad Autónoma La Rioja, que detém uma única província com o mesmo nome.
A DOCa Rioja localiza-se na parte norte da homônima Comunidad Autónoma, porém se estende ao território da vizinha Navarra (à margem esquerda do rio Ebro) e engloba a província de Álava, no País Vasco.
A DOCa Rioja divide-se em três zonas, cada qual com algumas características específicas, a saber:
1) Rioja Alta: a maior das zonas (42% dos vinhedos da DOCa), localiza-se inteiramente em La Rioja, contando com um clima continental com influência atlântica. Os solos são aluviais, de argila calcárea e de argila ferrosa. A uva que prevalece é a Tempranillo;
2) Rioja Alavesa: a menor das zonas (21% os vinhedos), com um clima continental com influência atlântica, situando-se na província de Álava, no País Vasco. Os solos predominantes são de argila calcária e aqui também prevalece a Tempranillo;
3) Rioja Oriental: Situando-se no sudeste de La Rioja e ao sul do rio Ebro com pequena parte em Navarra, apresenta um clima continental com influência mediterrânea, com solos aluviais e de argila ferrosa. Aqui a uva predominante, ao contrário das demais zona, é a Garnacha Tinta. É a parte da DOCa que é moderada pelo vento Cierzo um anticiclone que sopra o outono e/ou no inverno a partir da Baía de Biscaia no norte/nordeste trazendo umidade e equilibrando a temperatura nos vinhedos, fazendo com que as uvas amadureçam de forma mais gradual e diminuindo o risco de doenças.
Na DOCa Rioja prevalecem os vinhos tintos (90%), havendo ainda a produção de rosados, brancos, espumantes (DO Cava para alguns vilarejos ou Espumosos de Calidad de Rioja para todo o território, uma recente categoria na DOCa) e de sobremesa.
Aqui, em Rioja a uva tinta Tempranillo é a principal, não raro escoltada nos assemblages pela Garnacha Tinta, pela Mazuelo (nome local para a Cariñena), Graciano e pela quase extinta Maturana Tinta. Nos vinhos brancos, a uva predominante é a Viúra (nome local para a Macabeo), sendo autorizadas ainda as cepas Garnacha Blanca, Tempranillo Blanco, Maturana Banca, Turruntes de Rioja, Malvasia de Rioja, Chardonnay, Sauvignon Blanc e Verdejo (as três última autorizadas em 2007 pelo Consejo Regulador).
Os estilos de vinhos são bem variados, embora o uso de barricas de carvalho seja muito difundido.
Na Rioja, ao contrário de muitas outras regiões clássicas no mundo, a modernidade e a tradição não são antagonistas, andando de mãos dadas. Há muitos produtores que elaboram vinhos tradicionais nas categorias Crianza, Reserva e Gran Reserva, e optam por uma abordagem mais moderna usando barricas maiores que as tradicionais de 225 litros, foudres, recipientes de formatos e materiais diversos (concreto, argila, por exemplo), elaborando alguns de seus melhores vinhos – até mesmo os de Viñedos Singulares - na categoria cosecha. E na Rioja Alavesa, paralelamente, ainda existem produtores pequenos - os Cosecheros - que elaboram vinhos usando a técnica da maceração semi-carbônica, técnica muito tradicional nessa zona.
A classificação dos vinhos de Rioja mais conhecida é que tem por base o tempo de amadurecimento do vinho em barricas de carvalho (qualquer tipo de carvalho), sempre com capacidade de 225 litros. As regras da DOCa Rioja exigem mais tempo do que a regra standard da legislação espanhola. Há uma para os vinhos tintos, e outra para os vinhos brancos e rosados, com etiquetas específicas:
Porém, faz alguns anos, de forma a melhor mostrar as diferenças e nuances entre os diversos terroirs da DOCa Rioja, foi criada uma classificação baseada na origem do vinho. Os quatro níveis e seus respectivos requisitos são:
1) Genérico – elaborado com uvas de qualquer parte da DOCa Rioja, que podem ser mescladas;
2) Vino de Zona (criada em 1998): 3 zonas, 85% das uvas da zona indicada no rótulo; rastreabilidade da produção; se compradas as uvas, contrato de no mínimo 10 anos de vigência;
3) Vino de Município/Pueblo (instituída em 1999): 144 municípios autorizados, mínimo de 85% das uvas oriundas do município e restante de um vizinho contíguo; vinícola precisa se localizar no mesmo município; rastreabilidade da produção; se compradas as uvas, contrato de no mínimo 10 anos de vigência;
4) Viñedo Singular (a partir de 2017): Cerca de 140 vinhedos considerados de extrema qualidade; vinhas com no mínimo 35 anos; rendimentos 20% menores dos que os usualmente exigidos na DOCa; colheita manual; rastreabilidade da produção; aprovação por comitê degustador do Consejo Regulador; se compradas as uvas, contrato de no mínimo 10 anos de vigência.
Essa classificação não anula a classificação baseada no tempo de amadurecimento do vinho e barrica de carvalho. Ambas as classificações convivem e interagem. Um vinho Crianza, Reserva, Grand Reserva ou até mesmo Cosecha, por exemplo, pode ser de zona, ou até de um Viñedo Singular, assim como um Gran Reserva pode ser Genérico (o que é muito comum, como por exemplo, um CVNE Imperial Gran Reserva ou um La Rioja Alta 904 Gran Reserva).
Como se percebe, a tradição e a inovação se fundem na DOCa Rioja, uma região em constante evolução, brindando os enófilos com uma variada gama de estilos e qualidade de vinhos, desde os clássicos até vinhos de terroir.
¡Salud!