White Zinfandel e o Resgate de Vinhedos Históricos Californianos

Domingo, 7 de fevereiro de 2021

A Zinfandel, que testes de DNA comprovaram ser a mesma uva que a Primitivo italiana ou a croata Crljenak Kaštelanski, não é, ao contrário do que muitos pensam, uma uva fácil, embora produza grandes quantidades.


As uvas de um mesmo cacho tendem a amadurecer de forma não gradual, não raro havendo em um mesmo cacho uvas maduras e outras não. E, em geral, até mesmo por não ser tão “popular” como a Cabernet Sauvignon ou a Pinot Noir, os vinhos Zinfandel não alcançam grandes cifras, levando muitos produtores a não darem a devida atenção a essa cepa - forma de colheita conforme o amadurecimento das parreiras; separação manual das uvas etc...


E, assim, a qualidade dos vinhos californianos com a Zinfandel varia dos medíocres (desde os tintos até os rosados chamados de White Zinfandel) a grandes vinhos, em geral robustos e potentes.

Nas últimas duas décadas vem ocorrendo um movimento de resgate dos vinhos Zinfandel, com produtores (e.g. Seghesio Family, Quivira, Ridge, Zichichi, Turley e Grgich Hills Cellars) elaborando vinhos espetaculares. Muitos desses Zins de alta qualidade são oriundos de vinhedos centenários, alguns field blend, com predominância da Zinfandel, porém com a presença de outras uvas como a Petite Sirah e a Mataró (outro nome para a Mourvèdre ou Monastrell).

Há, até mesmo, uma organização privada que congrega entusiastas da Zinfandel, a ZAP - Zinfandel Advocates & Producers(www.zinfandel.org), promovendo-a.


Dentre os estilos de vinhos Zinfandel existem os chamados White Zinfandel, que embora sejam vinhos simples, hoje vistos até mesmo com certo desprezo por enófilos, possuem uma grande importância histórica. 


Os White Zinfandels são, em essência, vinhos rosés (o que os norte-americanos chamam de blush wines), variando dos secos aos doces.


No início da década de 1970, Bob Trinchero e sua equipe de enologia na Sutter Home buscavam produzir um vinho Zinfandel mais intenso. Decidiram então retirar alguns galões do suco do mosto para concentrar mais profundamente os fenólicos (que conferem cor e sabor ao vinho tinto). 


Esses galões retirados, em que o suco havia tido pouco contato com as películas, deram origem a um vinho rosado (esse método de elaboração de vinho rosé se chama Sangria ou Saignée), que Bob Trinchero e sua equipe decidiram batizar de White Zinfandel.


Inicialmente, o White Zinfandel da Sutter Home não era doce. Porém, em 1975 durante a elaboração do vinho pela equipe da Sutter Home houve um problema na fase de fermentação do vinho, e quase todas as leveduras morreram antes de converter todo o açúcar em álcool. O resultado foi um vinho de meio seco a doce, e que rapidamente se transformou em enorme sucesso, até mesmo por seu preço barato, passando a ser vendido em grandes quantidades. 

Apenas para ilustrar esse sucesso doméstico, entre 1981 e 1986, a produção de White Zinfandel da Sutter Home cresceu exponencialmente, passando de 25 mil caixas a 1,3 milhão de caixas anuais.


Muitos produtores imitaram a Sutter Home. No entanto, nas décadas seguintes, em especial a partir da década de 1990, conforme os consumidores passavam a ter acesso e a experimentar mais vinhos rosés secos, em especial os franceses, os White Zinfandels doces entraram em decadência.

No entanto, a grande contribuição dos vinhos White Zinfandel foi a preservação de diversos vinhedos centenários por toda a Califórnia. Por passar a Zinfandel a ter um atrativo econômico, muitos vinhedos foram preservados e salvando-se de serem arrancados para dar lugar a uvas comercialmente mais “lucrativas”, como a Cabernet Sauvignon e a Pinot Noir.


Atualmente, muitos produtores entusiastas da uva ZInfandel produzem White Zinfandels, secos, frutados e elegantes, e optaram por manter o termo White Zinfandel por conta da importância desse tipo de vinho para a preservação histórica dos vinhedos centenários plantados com a Zinfandel na Califórnia.


Cheers!

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