Um vinho branco perfeito: Trimbach Riesling Cuvée Frédéric Emile 2008

Segunda-feira, 21 de maio de 2018

Recentemente visitei a Alsácia, região francesa que se destaca pela produção de vinhos brancos, em especial monovarietais - Riesling, Gewürtztraminer, Pinot Gris, e outras. De estilos diversos, dos secos até os extremamente doces, o sistema de vinhos da Alsácia é objeto de posts específico (leia aqui, aqui e aqui).


Nessa viagem, mais de uma dezena de vinícolas foram visitadas e mais de uma centena de vinhos foram degustados, em estilos e níveis de qualidade diversos com grande foco nos Grand Crus. Foi realmente uma jornada surpreendente e didática.


Em uma de nossas visitas, tivemos a oportunidade de degustar um vinho único, um Riesling seco, com dez anos de idade. Simplesmente espetacular, um daqueles vinhos que se destacam no meio de diversos vinhos excelentes, e nos marcam.

Embora não me preocupe com notas de críticos de vinhos, até mesmo porque cada garrafa é sempre única, e há diversos fatores subjetivos que influenciam a degustação (onde bebemos, quando bebemos, com quem bebemos, nossas condições físicas, taças, aspectos do serviço etc...), o Riesling Cuvée Frédéric Emile 2008 da Maison Trimbach é realmente um daqueles vinhos únicos, que guardamos anos a fio em nossas memórias.


Lançado no mercado já com dez anos, o Trimbach Riesling Cuvée Frédéric Emile logo foi aclamado pela crítica especializada internacional, recebendo 96 pontos da Wine Advocate (Stephan Reindhardt) e 95 pontos da Wine Enthusiast (Anne Krebiehl MW).

Porém, sua consagração máxima veio com a perfeita pontuação 20/20 conferida por um dos mais respeitados guias de vinhos franceses, o Bettane + Desseauve, dos experientes críticos Michel Bettanee Thierry Desseauve.


Embora o Trimbach Riesling CuvéeFrédéric Emile não seja oficialmente um Grand Cru, as uvas com que é elaborado são provenientes de uma parcela específica de vinhedo (lieu-dit, como preferem os franceses) que se localiza na divisa entre os Grand Crus Geisberge Osterberg, pertinho das instalações da vinícola na bela cidade de Ribeauvillé.


Na verdade, tais parcelas já eram utilizadas na elaboração do Trimbach Riesling Cuvée Frédéric Emile muitos anos antes de Geisberg e Osterberg terem suas extensões definidas e serem alçados ao status deGrand Cru(respectivamente, em 1983 e 1992).

A Maison Trimbach, de seu turno, optou por manter o Trimbach Riesling Cuvée Frédéric Emile “apenas” na classificação Appelation Alsace Contrôlée ao invés de “dividir” o vinho em dois outros vinhos pertinentes aos Grand Crus Geisberge Osterberg, colocando-os na teoricamente mais prestigiosa classificação Appelation Alsace Grand Cru Contrôlée.


A decisão da Maison Trimbach de manter o Cuvée Frédéric Emile fora da classificação Alsace Grand Cru (o mesmo aconteceu com o cultuado Trimbach Clos Saint Hune), reflete uma crítica (hoje já um pouco abrandada) de parte dos produtores alsacianos (Hubert Trimbach, Felix Meyer, Léon Beyer, Marc Hugel, dentre outros) à forma como foram definidos os Grand Crusna Alsácia, e que, em apertada síntese, se centra no número excessivo de Grand Crus e na própria ausência de classificações intermediárias, como as apellations villages e premiers crus, tal como ocorre na Borgonha, dentre outros aspectos.

E, assim, em uma ensolarada manhã de início de primavera, e ainda ignorantes quanto às notas recebidas pelo Riesling Cuvée Frédéric Emile 2008, chegamos na Masion Trimbach em Ribeauvillé para uma degustação. 


Na Alsácia não é raro que em visita a produtores haja mais de uma dezena de vinhos possíveis de serem degustados. Assim, é comum que em algumas visitas nos seja indagado que estilo de vinhos preferimos degustar. Porém, para realmente mergulhar em uma região de vinhos e entende-la precisamos afastar nossos gostos pessoais e provar novos estilos de vinhos. Sempre que indagavam isso pedia uma sugestão para que me fosse apresentado um panorama dos vinhos alsacianos e do trabalho e filosofia da vinícola.


Seguindo essa filosofia, iniciamos com um refrescante e seco Muscat, o Trimbach Muscat Réserve 2015.

Em seguida degustamos o excelente Trimbach Riesling Selection de Vieilles Vignes 2015 e após ao incrível Riesling Cuvée Frédéric Emile 2008.


Recentemente lançado no mercado, já com dez anos de idade, o Riesling Cuvée Frédéric Emile 2008 mostrava que ainda tinha uma longa vida pela frente. Com cor amarelo limão, no nariz se mostrava com intensidade pronunciada e aromas de limão siciliano, damasco, abacaxi, casca de laranja, sílex, notas de pimenta branca e com um leve petróleo, querosene, característicos de Rieslings mais envelhecidos. Na boca, era seco, com muito corpo, quase cremoso, com notas de frutos secos e cítricos, final extremamente longo. Realmente impressionante.


De se destacar que o Riesling precedente já era espetacular, daí minha empolgação com o Riesling Cuvée Frédéric Emile 2008 (obviamente o fato de ser um grande fã da Riesling influenciou meu julgamento em ambos os vinhos). 


Na sequencia, passamos aos Pinots Gris, com grau de açúcar residual maior. Iniciamos com o Trimbach Pinot Gris Réserve 2015, e em seguida passamos ao Trimbach Pinot Gris Réserve Personnelle 2014.

Aumentando o nível de açúcar residual, passamos aos aromáticos Gewürztraminers. Iniciamos com o Trimbach Gewürztraminer Cuvée des Seigneurs de Ribeaupierre 2011, arrebatador no nariz com seus aromas de rosas e lichias. 


Em seguida, degustamos os vinhos doces. Primeiro, o Trimbach Gewürztraminer Vendages Tardives 2011 e, em seguida, o monumental e complexo Trimbach Gewürztraminer Selection de Grains Nobles 2008 encerrou  com chave de ouro a degustação!


Um belo início para nossa visita à Alsácia! Santé!

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