Tinta Francisca, o Resgate de uma Uva Autóctone


Quarta-feira, 26 de abril de 2023

Embora de um país territorialmente pequeno, o vinho português apresenta uma grande riqueza. Esta riqueza reside nos diversos estilos de vinhos, dos espumantes e frisantes, aos vinhos fortificados passando por vinhos tranquilos (“vinhos de mesa”, termo que não deve ser confundido com os vinhos “de mesa” brasileiros elaborados com uvas não viníferas) brancos, rosados e tintos, conjugados com uma grande variedade de microclimas e solos.

Somado a isso Portugal conta com centenas de castas autóctones e de outras castas que ali encontraram mais um lar (e.g. Alicante Bouschet, Aragonez/Tinta Roriz etc).

 

Algumas destas cepas autóctones acabam por destacar-se mais, como a Touriga Nacional.


Porém, muitas anteriormente consideradas como secundárias e de pouca importância, acabam sendo redescobertas, como a Sousão/Vinhão ou mais recentemente a Tinta Francisca.

Há quase dez anos, em uma viagem ao Porto, tive a oportunidade de visitar a sede da Real Companhia Velha. Em companhia do meu saudoso amigo e mentor Cesar Chiappetta DipWSET, fomos recebidos por Pedro Silva Reis (o filho) que nos conduziu em uma degustação pelos principais vinhos da vinícola (tranquilos e do Porto).

Na ocasião, Pedro Silva Reis nos contou um recente projeto da Real Companhia Velha: a redescoberta da casta Tinta Francisca. uma uva presente nas vinhas velhas misturadas (field blend) do Douro e utilizada nos lotes para vinhos do Porto e que estava à beira da extinção. Então a Real Companhia Velha decidiu por elaborar um vinho monovarietal de forma a preservá-la.

O vinho lançado então pela Real Companhia Velha foi o Carvalhas Tinta Francisca.

Como mencionado, a Tinta Francisca é uma uva tradicional do Douro, presente nas vinhas velhas misturadas (field blend) e utilizada nos lotes para vinhos do Porto.

 

Segundo estudos de DNA, a Tinta Francisca tem por parentes a Tinto Cão, a Viosinho e a Rabigato, todas presentes no Douro.

 

A Tinta Francisca é uma uva com brotação intermediária, baixos rendimentos, com um longo ciclo e amadurecimento tardio. As cascas finas tornam as bagas suscetíveis ao oídio e à Botrytis. Essa cepa melhor se adapta em solos secos e locais quentes e ensolarados.

Os cachos da Tinta Francisca lembram os da Pinot Noir. Origina vinhos aromáticos, de cor mais clara (de um granada a um “rubi atijolado”), e, em geral, com médio-alto teor alcoólico e baixa acidez.

 

Com a sua “recente redescoberta”, além do Carvalhas Tinta Francisca da Real Companhia Velha, outras vinícolas começaram a elaborar vinhos tranquilos com a Tinta Francisca (monovarietais ou cortes).

Dentre esses novos vinhos, destacamos o Ferreirinha Tinta Francisca, 100% Tinta Francisca elaborado com uvas de uma vinha da Quinta dos Seixos e com estágio de 24 meses em barricas de carvalho francês usadas.

 

Outro vinho recente, ainda em sua segunda safra (as safras até o momento são 2019 e 2020), e que muito nos agradou pela elegância, é o Crasto Altitude 430, com um assemblage de 70% Tinta Francisca e 30% Touriga Nacional.

 

Como se pode ver, Portugal sempre tem “novos” vinhos para brindar os enófilos, e busca proteger e resgatar suas uvas autóctones.

 

Saúde!

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