Shea Vineyard, o Grand Cru do Oregon

Segunda-feira, 2 de julho de 2018

No sistema norte-americano das AVAS (American Viticultural Areas – o equivalente às apelações ou denominações de origem no sistema norte-americano - leia mais aqui) não existe uma classificação oficial de vinhedos com uma hierarquia própria, tal qual ocorre em algumas regiões da França, como, v.g., na Borgonha e na Alsácia.


No entanto, como mencionamos em outras oportunidades (leia mais aqui, aqui e aqui), há uma tendência cada vez maior em países produtores a elaborar vinhos de vinhedos únicos, de forma a refletir o local, fortalecendo a noção de terroir.


Em uma região como Willamette Valley (uma AVA), que contempla diversas sub-apelações com características próprias (Chehalem Mountains, Ribbon Ridge, Dundee Hills, Yamhill-Carlton, Eola-Amity Hills e McMinville, todas AVAs próprias, estabelecidas entre 2004 e 2006), com solos e micro-climas diversos, e cuja principal estrela é a Pinot Noir (seguida da Pinot Gris e da Chardonnay), não é de surpreender uma certa preferência por elaborar vinhos single vineyards, como fazem Josh Bergström e Ken Wright.

Mesmo os produtores que têm como rótulos principais vinhos elaborados com frutas de mais de um vinhedo, acabam por elaborar em partidas menores vinhos single vineyards. Por exemplo, o Domaine Serene cujo flagship wine é o Evenstead Reserve, produz em partidas limitadas vinhos single vineyard como o Jerusalem Hill Vineyard Pinot Noir, o nosso preferido desse produtor. 


Um dos vinhedos mais célebres do Oregon é o Shea Vineyard, praticamente todo plantado com Pinot Noir (dos 140 acres, 135 são de Pinot Noir e 5 apenas com Chardonnay).

No final da década de 1980, o casal Dick e Deirdre Shea compraram um terreno em Willamette Valley onde plantaram o Shea Vineyard. Mais tarde, em 2004, houve a criação da AVA Yamhill-Carlton onde o vinhedo todo se situa.


Na época, o casal assumiu um grande risco, pois todos evitavam a área, não acreditando que os solos com sedimentos marinhos seriam propícios para o plantio de uvas.


Nos primeiros anos, os rendimentos do Shea Vineyard eram mais altos, e muitos produtores desconfiavam da qualidade das uvas, muitas vezes declinando comprar uvas ou ainda pagando preços inferiores aos custos de produção. 


Em 1994, entretanto, houve uma guinada no destino do Shea Vineyard. Naquele ano, Dick Shea e seu gerente, Javier Marin, decidiram diminuir os rendimentos do vinhedo, privilegiando qualidade sobre quantidade.

Pouco tempo depois, no mesmo ano, as vinícolas Panther Creek e Ken Wright Cellars lançaram seus primeiros vinhos elaborados apenas com frutas do vinhedo Shea Vineyard, colocando o nome do vinhedo no rótulo. Os vinhos receberam as notas mais altas até hoje dadas pelo crítico Robert Parker Jr. para vinhos Pinot Noir do Oregon.


No entanto, poucas semanas depois, descobriu-se phylloxera no vinhedo e praticamente tudo teve que ser replantado. Por sorte, a praga não se alastrou rapidamente como ocorreu na década de 1980 na Califórnia, ou no final do século XIX na França, podendo ser controlada e erradicada, sem causar maiores danos à região.

Como resultado do replantio das vinhas em 1995, foram utilizados porta-enxertos e majoritariamente clones Dijon (no entanto, ainda há vinhas mais antigas que não foram afetadas pela phylloxera e plantadas com clones Pommard, como o block 16 utilizado pela Bergström Wines), o que contribuiu para uma maior densidade nos vinhos.


No final da década de 1990, Dick Shea decidiu fundar sua própria vinícola, a Shea Wine Cellars produzindo vinhos apenas do vinhedo de mesmo nome. 


A Shea Wine Cellars produz vinhos diversos, um Estate que é um assemblage de blocos diversos do vinhedos, e vinhos de blocks específicos, que seriam o lieu-dit do vasto vinhedo, guardando pequenas diferenças entre si.


A Shea Wine Cellars utiliza 25% das uvas de seus vinhedos, vendendo o restante das uvas para um pouco mais de duas dezenas de vinícolas com quem mantém contratos. A Bergström Wines  é a vinícola com maior volume contratado. Outros produtores nessa seleta lista incluem Ken Wright, Winderlea, Penner-Ash Wine Cellars, Raptor Ridge, St. Innocent, dentre outros.

O Shea Vineyard compreende duas colinas separadas por uma ravina íngreme, e os solos possuem antigos sedimentos marinhos e espessos solos de arenito, forçando as raízes das vinhas a lutarem para conseguir chegar ao fundo buscando umidade e minerais. Por conta disso, os vinhos do Shea Vineyard são marcados por uma rica mineralidade, e são potentes e estruturados, sem, no entanto, perder a elegância.

 

Por conta da baixa altitude do Shea Vineyard o clima é mais quente que no restante do Willamette Valley, apresentando seus vinhos mais densidade e estrutura, contribuindo para sua longevidade.


Portanto, ao se deparar com uma garrafa de Oregon Pinot Noir com o nome Shea Vineyard no rótulo, não hesite em experimentar, é um clássico.


Cheers!

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