Quinta dos Murças, o Projeto da Esporão no Douro

Quinta-feira, 31 de março de 2022

A Herdade do Esporão é uma das mais importantes vinícolas do Alentejo, em Portugal. Reconhecida como uma das principais marcas de vinhos portugueses dispensa apresentações aos enófilos.

Desde o final da década de 2000, o grupo Esporão voltou suas atenções para a festejada região do Douro, em busca de novos desafios.


Em outubro de 2008, o Grupo Esporão, convencido das diversidades e qualidades dos terroirs da propriedade, adquiriu a Quinta dos Murças. A propriedade pertencia até então à família Pinto de Azevedo, que desde a década de 1940 vinha recuperando e plantando novas vinhas, com experimentações e inovações (como a primeira vinha vertical da região plantada em 1947). Inclusive o primeiro vinho tranquilo Quinta dos Murças é lançado em 1994 (safra 1992), período que contou com João Nicolau de Almeida como responsável técnico (e que implantou diversas vinhas verticais na propriedade). 

Ainda em 2008 a Esporão realizou sua primeira colheita na Quinta dos Murças, inclusive lançando alguns anos depois, em 2011, o Quinta dos Murças Reserva 2008 (do qual tenho a sorte de ter uma garrafa Magnum).

 Em 2009 e 2010 iniciou-se um processo de recuperação da infra-estrutura e da adega, de replantio das vinhas e plantação de novas vinhas.


Os primeiros vinhos da moderna Quinta dos Murças (já sob a administração do grupo Esporão) foram lançados em fevereiro de 2011: o Quinta dos Murças Reserva 2008 e o Assobio Tinto 2009. O enólogo era então o australiano Daven Baverstock. 


Em 2014, a Quinta dos Murças, no rastro do sucesso do Assobio Tinto (a safra 2011 recebeu no ano de 2013 incríveis 94 pontos da Wine Spectator) ampliou seu portifólio, lançando os vinhos Assobio branco e rosé.

No ano seguinte, em julho, José Luís Moreira da Silva passa a ser o gestor vitivinícola da Quinta dos Murças. Adota como filosofia a interferência mínima em todo o processo de elaboração dos vinhos, da vinha até a adega, com o escopo de que os vinhos reflitam o caráter único de cada parcela, explorando cada micro-terroir da Quinta dos Murças.

Já em 2016, com os micro-terroirs da quinta mapeados e melhor identificados, trabalho que contou com o precioso auxílio da Unité Vigne et le Vin (do Centre INRA d’Angers-Nantes), a Quinta dos Murças amplia seu portifólio de vinhos tranquilos lançando três vinhos: Quinta dos Murças Minas; Quinta dos Murças Margem; e Quinta dos Murças VV 47. Todos buscando refletir os distintos terroirs da propriedade.


Como apreciador dos vinhos da Quinta dos Murças, inclusive de seus vinhos do Porto, aproveitei uma viagem ao Douro e visitei a vinícola.


Assim, em uma ensolarada manhã de janeiro, com uma agradável temperatura em torno de 10-12°C, visitamos a Quinta dos Murças, em Covelinhas, perto de Peso da Régua.


Fomos recebidos pelo simpático Sr. Manuel Machado, um dos responsáveis pelo enoturismo da Quinta dos Murças.


Na primeira parte da visita, estivemos na adega e conhecemos mais sobre os vinhos da Quinta dos Murças, suas diferentes propostas e a filosofia de expressão de cada micro-terroir da propriedade. Provamos diretamente das cubas os vinhos Assobio - branco e rosé.


Na sequência, visita à belíssima casa principal da quinta, totalmente recuperada e restaurada em 2017. Lá degustamos os vinhos da Quinta dos Murças, juntamente com um delicioso almoço.

Da linha Assobio, provamos o branco 2020 (Viosinho, Verdelho, Rabigato, Gouveio e Códega do Larinho); o rosé 2020 (Touriga Nacional, Tinto Cão, Tinta Roriz e Rufete) e o tinto 2019 (Touriga Nacional, Tinta Roriz e Touriga Franca). Essa é a linha de entrada da Quinta dos Murças, e impressiona pela imbatível relação preço x qualidade que oferece. São elaborados em vinhas em encostas íngremes, de orientação norte, mais protegidas do sol, em um dos limites da Quinta dos Murças, de onde, poeticamente diz-se que “quando o vento passa pode-se ouvi-lo a assobiar”.

Na sequência, provamos os chamados vinhos de terroir da Quinta dos Murças:


1) Quinta dos Murças Minas 2018 (Tinta Roriz, Tinta Amarela, Tinta Barroca, Sousão, Touriga Nacional e Touriga Franca): vinhedos mais novos (entre 1987 e 2011) e que se encontram plantados em patamares e em vinhas verticais. A exposição é sul, e o terroir é marcado pela existência de 5 minas d’água que ajudam a refrescar o ambiente. Os solos são xistosos. Um vinho com fruta madura e fresco.


2) Quinta dos Murças Margem 2019 (Touriga Nacional e Touriga Franca): oriundo de uma parcela junto ao rio Douro, com vinhas velhas e verticais (1980-1987) com exposição sul e oeste, e solos com blocos e seixos de xisto e xisto rolado. A localização junto ao rio acarreta um clima mais quente e, por conseguinte, a vinha produz uvas de maior concentração e maturação. Fruta, álcool e acidez muito bem integrados nesse belíssimo vinho.


3) Quinta dos Murças Reserva 2015 (Tinta Roriz, Tinta Amarela, Tinta Barroca, Sousão, Touriga Nacional e Touriga Franca): plantado em vinhas verticais e velhas (1980-1987), com exposição sul e oeste, solos de micaxisto. Extremamente elegante e com potencial de guarda.


4) Quinta dos Murças VV 47 2015 (Tinta Roriz, Tinta Amarela, Tinta Barroca, Sousão, Touriga Nacional e Touriga Franca): o nome desse vinho faz alusão à sua proveniência, a vinha vertical mais antiga do Douro, plantada em 1947. A vinha tem exposição sudeste e os solos são xistosos e se localizam no meio de uma das encostas da propriedade (262-292 metros). Um vinho histórico e espetacular, extremamente elegante.


Os vinhos escoltaram maravilhosamente o delicioso almoço servido (sopa de espinafre, pães frescos com o azeite da Quinta dos Murças, e vitela). O grand finale foi um delicado pão de ló (meu filho mais novo diz que foi a melhor sobremesa da viagem) harmonizado com o Porto Quinta dos Murças Tawny 10 Years, um antigo favorito.

 Após o almoço, ficamos no jardim da sede contemplando o rio Douro, bebericando uma taça do Quinta dos Murças Tawny 10 Years.


Depois, para finalizar, o Sr. Manuel Machado nos levou para visitar os vinhedos a bordo de um Jeep 4x4. Tivemos então a oportunidade de ver in loco as vinhas do VV47, as vinhas dos Quinta dos Murças Minas, Margem e Reserva, em uma paisagem belíssima com vista para o rio Douro.


Alguns dias depois, ainda em Portugal, não resisti e abri o Quinta dos Murças Ânfora 2017, elaborado com as uvas Tinto Cão e Tinta Francisca, a partir de parcela específica do Minas plantada em 2011 em patamares, em altitudes entre 110-300 metros. Esse vinho, de produção limitada, é uma das experimentações da equipe de enologia da Quinta do Murças (uma outra experiência que soubemos na visita é um rosé vinificado em ânfora, com uvas colhidas 15 dias antes da maturação, e da safra 2018), com vinificação em ânforas de terracota, com leveduras indígenas e estágio na própria ânfora. Um vinho muito fresco e elegante, que muito nos surpreendeu.


Uma visita inesquecível com vinhos especiais!


Saúde!

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