Penfolds Grange 2005 – Degustando um Mito

Segunda-feira, 9 de junho de 2014

Faz algumas semanas tive a oportunidade de degustar, pela primeira vez, um dos maiores vinhos australianos, e do mundo: Penfolds Grange, mais especificamente o da safra 2005.


O Penfolds Grange pode ser considerado o embaixador dos vinhos australianos, o primeiro grande vinho daquele distante país, capaz de rivalizar com os Bordeaux mais famosos e com outros grandes vinhos do mundo.


Em 1950 Max Schubert visitou a Europa e diversas vinícolas, aprendendo novas técnicas até então desconhecidas na Austrália cuja produção vinícola à época se focava mais em vinhos generosos.


Retornando à Austrália, Max Schubert decidiu criar um Premier Cru australiano nos moldes dos grandes Bordeaux, inclusive para longa guarda.

Com dificuldades para encontrar as castas bordalesas típicas, Schubert optou por usar predominantemente a Shiraz (nome usado pelos australianos para a Syrah), cepa que até hoje é a mais emblemática da Austrália.


Em 1951 nasceu a primeira safra do Penfolds Grange Hermitage (o termo Hermitage somente deixou de ser usado em 1989), safra experimental não colocada à venda.

A safra de 1952 foi a primeira safra do Penfolds Grange vendida comercialmente. Entretanto, em um contexto local em que os vinhos generosos prevaleciam, o Grange recebeu críticas negativas, o que levou a vinícola a proibir sua produção.

Entretanto, Max Schubert não desistiu e clandestinamente continuou a elaborar o vinho de seus sonhos. Até que na década de 1960 um membro da diretoria da Penfolds redescobriu o vinho, cujas primeiras safras a essa altura já apresentavam seu grande potencial, e assim o Grange passou a ser elaborado anualmente.


Ao contrário dos grandes vinhos do mundo que refletem um terroir único, muitas vezes oriundos de vinhedos únicos específicos, o Penfolds Grange, seguindo uma tradição típica australiana (hoje não mais absoluta, registre-se, com produtores procurando elaborar vinhos de vinhedos específicos), não procura transmitir um senso de lugar. Suas uvas vêm de diversos pontos de uma vasta área na parte sul da Austrália, mudando a composição do vinho ano a ano. Composição esta, assim como a quantidade de garrafas produzidas, mantida em segredo.

Em outros termos, o Penfolds Grange se destaca não pelo lugar de origem de suas uvas, mas sim pelo trabalho dos enólogos, que buscam manter o estilo aclamado do vinho. Quanto ao “estilo do vinho”, ousaria dizer que seria algo muito similar com os Champagnes das grandes Maisons, focados não no terroir propriamente, mas sim no estilo da casa.


Uma outra curiosidade é a designação Bin que consta do rótulo do Penfolds Grange. Bin se refere, no mundo vitivinícola australiano, ao lugar onde determinado vinho é guardado na adega para amadurecer até ser engarrafado.


A primeira safra do Penfolds Grange em 1951 ostentava Bin 1, a de 1952 Bin 4, e muitas outras numerações em outras safras posteriores, até que em 1964 passou a ser usada a designação Bin 95, que prevalece até hoje.

Embora raramente opte por descrever tecnicamente vinhos em artigos, até porque acredito que a degustação tenha um caráter mais passional, emocional, do que propriamente técnico (mas isso deve ser objeto de um post próprio), não posso me furtar de analisar esse belo vinho, ainda que de forma resumida. Até porque o Penfolds Grange 2005 não decepcionou!


Repousando no Decanter por cerca de uma hora e meia, notou-se uma grata evolução desde sua abertura (a partir daquele gole roubado de quando se abre a garrafa a pretexto de ver se o vinho já está pronto para servir). Na cor, apresentou um vermelho rubi, de uma incrível vivacidade. No nariz, é um daqueles vinhos com uma ampla paleta de aromas, identificados pouco a pouco, conforme se degustava o vinho, alguns aromas sutis... O caráter terroso se mostrava presente, com frutas negras e vermelhas, e chocolate amargo ao fundo, que ora surgia, ora desaparecia, como se escondendo. Um bouquet incrível! Na boca, manteve-se coerente e apresentou uma incrível maciez, embora potente, e com uma longa persistência.


Aliás, a persistência foi o que mais me impressionou. Um daqueles vinhos que podemos lembrar do cheiro e do gosto muito tempo depois.


Em suma, uma belíssima experiência.


Cheers!

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