Paso Robles e suas AVAs

Terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Paso Robles é uma das minhas regiões vinícolas preferidas na Califórnia.


Desde a nossa primeira visita em 2011 (leia aqui), quando ainda não era um wine country tão célebre como Napa e Sonoma, Paso Robles - ou apenas Paso como preferem os locais - se tornou bem badalada, inclusive tendo sido eleita em 2013, pela publicação norte-americana Wine Enthusiast, a região produtora de vinhos daquele ano (Wine Region of the Year).


Atualmente, é uma das regiões vinícolas mais prestigiadas dos Estados Unidos. E apesar do sucesso e do estruturado enoturismo, Paso mantém seu charme com seu estilo wild west, com preços (ainda) razoáveis quando comparado com Napa Valley.


Paso se localiza no condado de San Luiz Obispo, na chamada Central Coast da Califórnia, no meio do caminho entre San Francisco e Los Angeles, abrangendo a cidade homônima e diversas localidades próximas.


A região se estende cerca de 42 milhas do oeste para o leste, e 32 milhas do norte ao sul, e até 2014 era a maior AVA californiana sem subdivisões, apresentando diversos tipos de solos e microclimas variados.

Paso Robles se notabilizou por diversos estilos de vinhos, desde a pioneira Zinfandel e seus blends, até a Syrah, a Grenache e demais uvas do Rhône sozinhas ou em assemblages (é um dos lares dos chamados Rhone Rangers), passando pela Cabernet Sauvignon e os cortes bordaleses, com espaço para experimentações com Tempranillo, Touriga Nacional, cepas italianas como a Barbera (sobre os Cal-Italians Wines leia aqui), e blends inovativos (enquanto escrevia este post degustava um vinho 55% Syrah, 40% Zinfandel e 5% Viognier, o Zenaida Zephyr 2014, uma releitura local do Côte-Rôtie acrescida da Zinfandel).


Em 2014 a AVA (American Viticultural Area) de Paso Robles foi subdividida em 11 AVAs, mantendo-se, como ocorre com Napa por exemplo, uma AVA maior, no caso Paso Robles, de forma a realçar para o apreciador de vinhos as características do terroir de cada localidade da região.


As novas AVAs agrupam-se em três subregiões:

1) A parte oeste montanhosa, a cerca de 5 milhas do Pacífico (Western Hilly Areas), com solos calcários e em com vinhedos até 2400 pés do nível do mar, e contando com brisas marítimas moderadas, e na qual se inserem as AVAs Adelaida, Paso Robles Willow Creek, Templeton Gap e, um pouco mais ao sul, após a cidade de Atascadero, Santa Margarita Ranch (com solos aluviais). Além dos potentes Zinfandels, a área se destacam também pelos vinhos elaborados com varietais do Rhône, com destaque para a Syrah e para a Grenache. Há ainda excelentes vinhos elaborados com a Petite Sirah (leia mais sobre esta enigmática uva aqui) de vinhedos antigos;

2) A parte dos vales internos (Inland Valleys), já à leste da Highway 101, com as AVAs San Miguel, Paso Robles Estrella, Paso Robles Geneseo, e El Pomar, com vinhedos plantados entre 700 e 1600 pés do nível do mar, e com solos argilosos e aluviais. Aqui, até mesmo por não haver tanta influência da brisa marítima, se destacam a Cabernet Sauvignon, e os vinhos com cortes bordaleses, além da Zinfandel.


3) Também ao leste da Highway 101, a Inland Hilly Area, com vinhedos em colinas, e com clima mais quente, também se destacando a Zinfandel e a Cabernet Sauvignon, e com futuro promissor para cepas espanholas e portuguesas. Aqui há menos chuva que nas demais áreas e a inversão térmica é maior. As AVAs aqui são San Juan, Creston e Highlands.

Vale lembrar que a vizinhaYork Mountain, na parte oeste da região, é uma AVA independente, não se inserindo dentre as sub-AVAs de Paso Robles.


Alguns poderiam pensar qual a razão de se criar 11 AVAs inseridas dentro de uma AVA, Paso Robles, já com nome reconhecido no mercado de vinhos. Como já tivemos oportunidade de escrever antes, as AVAs, não obstante algumas críticas recebidas quanto à sua proliferação no sentido de que “confundiriam o consumidor”, mostram-se imprescindíveis para a construção de uma noção de terroir na Califórnia e em outras regiões produtoras norte-americanas, e, mutatis mutandi, no mundo todo. São imprescindíveis para a construção de uma identidade cultural-vinícola. Leia mais sobre a noção de AVAs e terroir aqui.


Pelo sistema atual, os produtores não são obrigados a ostentar o nome da sub-AVA, podendo manter apenas a AVA Paso Robles (ou ainda colocar Paso Robles e o nome específico da sub-AVA, como “Paso Robles – Templeton Gap District) e apenas com o passar do tempo poderemos perceber como as novas AVAs de Paso irão contribuir para o fortalecimento da noção de terroir da região.


Cheers!

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