Oseleta – Um Tesouro do Vêneto

Segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Como já tivemos a oportunidade de escrever antes, a Itália é um país com uma das maiores riquezas enológicas, produzindo vinhos em praticamente todas as suas regiões, do norte ao sul, passando por suas ilhas (Sardegna e Sicília), e contando com uma enorme variedade de uvas autóctones.


Jancis Robinson, Julia Harding e José Vouillamoz listam e analisam, em sua indispensável obra Wine Grapes – A Complete Guide to 1,368 Vine Varieties, Including Their Origins and Flavours, nada menos do que 377 variedades autóctones italianas! Tal fato já demonstra por si só a riqueza da viticultura italiana.


Na Itália, há vinhos brancos, espumantes, frisantes, rosados, laranjas/âmbar, tintos, de sobremesa, nos mais variados estilos, alguns bem fora do usual como, por exemplo, vinhos elaborados com a técnica do appassimento (e.g. Amarone de Valpolicella; Sforzato di Valtellina). 

Existem, em toda Itália, aproximadamente 334 D.O.C. (Denominazione di Origine Controllata), 74 D.O.C.G. (Denominazione di Origine Controllata e Garantita) e 118 I.G.T. (Indicazione Geografica Tipica).


No entanto, isso não impede que algumas uvas autóctones acabem por serem condenadas - por razões das mais diversas, inclusive por questões envolvendo volume de produção, mercado internacional etc... – ao ostracismo e até mesmo à quase extinção.

Por sorte, há muitos produtores atentos a isso e buscando resgatar essas uvas “esquecidas”, explorando seu potencial. São produtores orgulhosos da tradição italiana e cientes que um dos trunfos da enologia italiana reside justamente na sua originalidade.


Este é exatamente o caso da uva Oseleta, também chamada de Oselina, cepa de casca escura nativa do Vêneto.


Quando pensamos em vinhos tintos do Vêneto lembramos principalmente dos Valpolicellas e dos Amarones della Valpolicella, e suas uvas principais Corvina e Rondinella. 


No entanto, há outras uvas nativas do Veneto como a Corvinone e a própria Oseleta.

A Oseleta estava quase extinta na década de 1970, até que foi redescoberta em Pigozzo, uma vila no nordeste de Verona.


Desde então, alguns produtores, como Masi e Tedeschi passaram a usar a Oseleta em pequenas proporções nos vinhos Valpolicella, Amarone de Valpolicella e Recioto della Valpolicella com o objetivo de adicionar cor e taninos nos seus assemblages.


A partir de 2002 a Oseleta passou a ser reconhecida e recomendada nos vinhos da região de Valpolicella.


De forma muito similar como vem ocorrendo com a Petit Verdot no Novo Mundo (com a qual guarda algumas similitudes como a função de adicionar cor e taninos em assemblages e com boa resistência à botrytis), a Oseleta já não vem se limitando apenas a compor cortes nos famosos vinhos do Veneto. Produtores como Zymè e Masi produzem vinhos monovarietais IGP (Indicazione Geografica Protetta) Rosso del Veronese com a Oseleta, buscando resgatar seu potencial.


Masi, por exemplo, utiliza a Oseleta em diversos vinhos (Toar, Brolo Campofiorin Oro, Riserva de Costasera) e produz o Osar – que tivemos a oportunidade de degustar faz uns meses em viagem à Itália – a partir de vinhedos plantados entre 1985 e 1990. 

O vinho Osar, 100% Oseleta, passa 24 meses em barricas novas de carvalho, com cor escura, apresentando grande complexidade aromática (mirtilo, amoras, cerejas negras, notas de ervas, canela, couro), taninos altos, acidez média mais, e longo final. Um vinho único, de excelente qualidade e com grande potencial de guarda.    


Salute!

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