Novas AVAs e Breves Reflexões sobre o Terroir na Califórnia

Segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Chama-se American Viticultural Area (AVA) o sistema de denominação de origem dos vinhos adotado nos Estados Unidos da América. 

O órgão responsável por administrar tal sistema, inclusive modificando ou criando novas AVAs é o Bureau Of Alcohol, Tobacco, Firearms and Explosives (ATF).


Recentemente, o referido órgão aprovou quatro novas AVAs:


1) Moon Mountain District Sonoma County: Localizada dentro de outra AVA, Sonoma Valley, essa sub-AVA procura destacar características de suas uvas cultivadas em montanhas das demais cultivadas em Sonoma Valley;


2) Ballard Canyon: Localizada no condado de Santa Barbara, é a terceira sub-AVA dentro da AVA de Santa Inez Valley, buscando os produtores serem reconhecidos pelos vinhos elaborados com as variedades típicas do Rhone, em especial a Syrah;

3) Big Valley District-Lake County e Kelsey Bench-Lake County: Ambas localizadas em Lake County e criadas pela mesma norma (T.D. TTB–118) que também modificou os limites da já existente AVA de Red Hills Lake County.


As AVAs  são regiões delimitadas a partir de traços geográficos, subclimas e até mesmo fatores históricos, com limites oficialmente reconhecidos e definidos pelo órgão regulador local.

As AVAs se diferem das DOCs e DOCGs italianas e das AOCs francesas na medida em que indicam apenas parâmetros geográficos, deixando os produtores livres para usarem as uvas e as técnicas que bem entenderem. Vale destacar a existência de produtores, como Phil Coturri, que vem defendendo a ideia de que os próprios produtores, voluntariamente, criem padrões mínimos de qualidade, inclusive no que tange ao volume de uvas produzidas e às variedades.

Existem AVAs com vasto território, como, por exemplo, Sonoma Valley (Califórnia) ou Columbia Valley (Washington), e dentro das quais se encontram outras AVAs menores.


Não há dúvida de que a tendência aponta na criação de AVAs menores dentro de AVAs maiores, buscando distinguir cada vez mais os vinhos produzidos entre si, suas uvas, seus estilos.


Poder-se-ia dizer que as sub-AVAs seriam uma especificação das AVAs maiores, um forma de fortalecer a identidade dos vinhos de determinada localidade, inclusive à luz de fatores histórico-culturais, como práticas comuns adotadas pelos produtores locais.


O que ocorre com as sub-AVAs nada tem de novo no mundo do vinho, existindo sub-regiões menores em diversas regiões vinícolas. E aqui vale lembrar a autorizada lição de Karen MacNeil (A Bíblia do Vinho) que, embora direcionada a Bordeaux, se aplica às sub-AVAs norte-americanas (ou a qualquer denominação de origem criada dentro de outra já existente): “Pense nas denominações como numa série de caixas cada vez menores, uma dentro da outra (...)”. Assim, a caixa maior seria, por exemplo e para ficar dentro do nosso tema, Napa, e a menor Oakville, e assim por diante, conforme o caso.


As AVAs, não obstante algumas críticas recebidas quanto à sua proliferação (basicamente, “confundiriam o consumidor”, segundo seus críticos), se mostram imprescindíveis para a construção de uma noção de terroir na Califórnia e em outras regiões produtoras norte-americanas. São imprescindíveis para a construção de uma identidade cultural-vinícola.

A crítica de que a proliferação de AVAs criaria confusão entre os consumidores, ao nosso ver, não procede e beira à mediocridade.


Entender o vinho por sua região, por seus fatores histórico-culturais, e não apenas por suas uvas, é uma mera questão de educação (e de interesse pessoal) e que demanda tempo. Mesmo em países com vasta tradição vinícola, nem sempre o consumidor médio tem a exata noção das diferentes denominações de origem ao seu dispor e suas características.


A pergunta como que devemos responder a tais críticas é simples: que espécie de vinhos desejamos? Algo massificado, um produto de marketing global, ou algo único, com identidade e alma? Se a resposta é a última parte da segunda pergunta (pelo menos é a minha), então a especialização das AVAs e outras denominações de origem é essencial, fortalecendo a identidade cultural local e tornando seus vinhos únicos. Ademais, é divertido explorar e descobrir novos vinhos e produtores...


Cheers!


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