Maison M. Chapoutier - Visita e Degustação

Terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Visitar uma vinícola é um dos grandes prazeres de um apreciador de vinhos. O motivo não é apenas ver onde os vinhos são elaborados, aprender o método de vinificação ou degustar rótulos de edição limitada ou de safras diversas das correntes no mercado. O grande motivo de visitar uma vinícola é, sim, poder ser transportado de volta ao local e relembrar momentos especiais ao degustar um vinho em casa ou em outro lugar, ou seja, é criar um sentimento específico de nostalgia.

Degustando ontem um M. Chapoutier Châteauneuf-du-Pape La Bernardine 2015 surgiu esse sentimento de nostalgia, e, automaticamente, me vi transportado para uma incrível visita à Maison M. Chapoutier em setembro de 2019.


A Maison M. Chapoutier tem sua sede em Tain-l’Hermitage, elaborando vinhos de vinhedos próprios e atuando como négociant.


A história da Maison M. Chapoutier remonta ao ano de 1879 quando a família adquiriu seu primeiro vinhedo.


No final da década de 1970 os irmãos Michel e Marc Chapoutier assumem o negócio e começa a grande revolução da vinícola. Na década de 1980, sob o comando de Michel Chapoutier, os vinhos da vinícola passam a atrair a atenção dos críticos internacionais, ganhando reputação.


Em 1989 Michel Chapoutier cria uma linha de vinhos de seleções específicas dentro de vinhedos em diversas apelações, as Sélections Parcellaires, com o escopo de melhor expressar as nuances dos diversos terroirs do Rhône.

No ano seguinte, Michel Chapoutier passa a colocar em prática o cultivo biodinâmico de seus vinhedos, convertendo-os um a um. Hoje todos os seus vinhos são biodinâmicos.


Uma das características do estilo de Michel Chapoutier é a preferência por vinhos do Rhône setentrional monovarietais. Assim, seus brancos de Crozes-Hermitage, Hermitage, Saint -Joseph e Saint-Peráy são sempre com Marsanne sem corte com a Roussanne. Seus tintos das apelações Crozes-Hermitage, Hermitage, Saint -Joseph e Côte-Rôtie são sempre 100% Syrah, sem adição de uvas brancas permitidas.

Nos seus vinhos tintos Châteauneuf-du-Pape, o foco é sempre a Grenache, embora acabe cortando com pequenas quantidades de outras uvas tintas permitidas na apelação.


Atualmente, Chapoutier produz vinhos em praticamente todas as apelações do norte e do sul do Rhône, além de vinhos de algumas apelações no Roussillon.


Os vinhos do Rhône da Maison Chapoutier dividem-se em diversas linhas, sempre marcados pela alta qualidade dentro de sua respectiva faixa de preço, com destaque para os vinhos das linhas Fac&Spera (de seleções de vinhedos específicos, os chamados Sélection Parcellaire), Excellence e Prestige.


A Maison Chapoutier produz ainda vinhos, em colaboração ou em projetos solos, na Alsácia e na Alemanha, um de seus novos projetos, e em Portugal, Espanha e Austrália, mostrando o espírito irrequieto e explorador de Michel Chapoutier.


Um dos destaques da Maison Chapoutier é o uso do braile em todos os seus rótulos, tendo sido a primeira vinícola a adotar tal prática. Michel Chapoutier teve a ideia de adotar o braile em seus rótulos ainda na década de 1990, após ouvir de um amigo cego, o cantor Gilbert Montagné, que este precisava sempre de um acompanhante para poder escolher uma garrafa de vinho em uma loja. As informações em braile nos rótulos incluem o produtor, a safra, o vinhedo, a região e a cor do vinho.

Uma outra curiosidade sobre Michel Chapoutier reside no seu amor pelas artes, em especial dos aborígenes australianos. Nas paredes da sede da Maison Chapoutier tivemos a oportunidade de ver algumas dessas pinturas, com indicações do artista, etnia e demais detalhes, tornando ainda mais agradável a visita à vinícola.


Em nossa visita, após passear pelo vinhedo de Hermitage com nosso anfitrião Thibaut Tracol, tivemos o prazer de degustar uma inesquecível e especial sequência de vinhos da Maison Chapoutier, representativos de diversos terroirs do Rhône setentrional e um Châteauneuf-du-Pape tinto e um branco das Côtes du Roussillon:

A)   M. Chapoutier Domaine de Bila-Haut Occultum Lapidem Côtes du Roussillon Blanc 2017 (Grenache Blanc, Vermentino): um corte de 70% Grenache Blanc e 30% Vermentino, também localmente conhecida como Rolle, o vinho apresentou, no nariz, frutas de caroço (damasco, pêssego) e um leve toque floral, com conjunto bem integrado;


B)   M. Chapoutier Lieu-dit Hongrie Saint-Péray 2017 (Marsanne): a AOP Saint-Péray é um dos Crus do norte do Rhône subestimada, eclipsada pelos brancos dos Crus vizinhos. Esse espetacular vinho de parcela única demonstra que isso pode ser um erro, apresentando complexidade no nariz, com notas ligeiramente torradas de brioche, aromas de pêssego branco, erva-doce e anis, com um longo final em boca.


C)  M. Chapoutier Invitare Condrieu 2017 (Viognier): para aqueles que adoram Condrieu, esse vinho tem toda a tipicidade que se espera da AOP, com aromas de abacaxi, flor de acácia, lichia, damasco e pêssego branco, com um final longo em boca com notas de baunilha;


D)  M. Chapoutier Chante-Alouette Hermitage Blanc 2017 (Marsanne): Um Hermitage blanc elaborado 100% com a Marsanne e extremamente elegante e complexo, com notas de mel, marmelo, gengibre, flor de acácia, com um longo final em boca com notas de amêndoas. Um dos nossos preferidos;


E)   M. Chapoutier Les Meysonniers Crozes-Hermitage 2017 (Syrah): elaborado a partir de vinhas com no mínimo 25 anos, apresenta boa tipicidade, com o típico aroma de violetas. Um dos grandes custos-benefícios;


F)   M. Chapoutier Les Arènes Cornas 2016 (Syrah): para fãs de vinhos da AOP Cornas (como eu), um vinho opulento e elegante, apresentando em boca amoras, especiarias, cereja, com taninos densos e firmes com grande persistência;


G)  M. Chapoutier Pie VI Châteauneuf-du-Pape 2016 (Grenache, Syrah): um assemblage de 65% Grenache e 35% Syrah, um dos Châteauneuf-du-Pape mais emblemáticos da Maison, com taninos macios, apresentando grande equilíbrio, concentração e complexidade, com destaque para um final longo com toques de especiarias e chocolate amargo;


H)  M. Chapoutier Monier de la Sizeranne Hermitage 2014 (Syrah): Um blend de vinhedos específicos de Hermitage (Les Bessards, com solos graníticos; Le Méal, com antigos terraços aluviais, com muitos cascalhos e calcário; e Les Greffieux com solo siltoso com telhas), apresentando aromas de amoras e groselhas pretas e um leve toque de alcaçuz. Na boca, se mostra concentrado com taninos macios e um leve toque apimentado.



Todos excelentes vinhos, diversos entre si, e que exprimem seus respectivos terroirs.


Porém, o grande desafio foi escolher o que comprar na loja da Maison Chapoutier, com diversos outros rótulos, inclusive de outros países em que Michel Chapoutier elabora vinhos.


Santé!

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