Hermitage, um dos Crus do Rhône

Terça-feira, 31 de março de 2020

Hermitage é uma das AOP/AOCs (Appellation d'Origine Protégée/Côntrolée) do Rhône setentrional consideradas como Cru, isto é, AOPs possuidoras de grande prestígio e renome.


Conta a lenda que no século XIII, o cavaleiro cruzado Gaspard de Stérimberg, após retornar ferido das cruzadas, foi agraciado pela rainha Blanca de Castilla com o direito de construir uma pequena capela em homenagem a São Cristovão, e ali na colina viveu como um ermitão até fim de sua vida.


Nos séculos XVIII e XIX o vinho tinto de Hermitage era comumente vendido para négociants da Borgonha e de Bordeaux, que misturavam aos seus vinhos para dar mais corpo.


No início do século XX o Hermitage Blanc era mais valorizado e disputado que o tinto, e os négociants precisavam comprar quantidades de tinto para poderem comprar o Hermitage branco.

Após a I Grande Guerra Mundial os vinhos de Hermitage entraram em decadência, até que no início dos anos 1970 tiveram sua glória restaurada.


Localizada na margem esquerda do rio Rhône (junto com a vizinha Crozes-Hermitage são as únicas AOPs do lado esquerdo do rio no Rhône Setentrional), Hermitage tem seus vinhedos localizados nas encostas íngremes de uma colina, e plantados com orientação sul. É a menor das AOPs do Rhône, com apenas cerca de 135 hectares de vinhedos plantados.


São produzidos, na AOP Hermitage, vinhos brancos (27% da produção) e tintos (73%).


Os brancos são, em regra, assemblage de Marsanne e Roussanne. No entanto, há também monovarietais com essas uvas, conforme a preferência do produtor. Notas de flores secas, damasco, mel e tostado caracterizam o Hermitage Blanc, um dos brancos franceses de grande longevidade.


Os tintos são elaborados com a Syrah. A Marsanne e/ou a Roussanne podem ser incorporadas aos tintos na proporção de até 15%. Violeta, rosa, pimenta, frutas negras como cereja, chocolate amargo e fumaça são notas típicas do Hermitage tinto. São tintos de guarda.


Os solos de Hermitage possuem afloramentos graníticos (predominantemente) cobertos de xisto e gnaisse, havendo alguma variação ou combinações de solos pela colina, como, por exemplo Les Greffieux com depósitos aluviais de argila, ou ainda Les Beaumescom arenito argiloso e depósitos aluviais.


Em geral, os melhores lieux-dits possuem solos graníticos, alguns com pedras redondas.

A AOP Hermitage se encontra dividida em 20 lieux-dits, com algumas variações de solos entre eles. São eles, com suas respectivas uvas majoritárias:


1.  L'Hermite: Syrah, Marsanne, Roussanne;

2. Chante Alouette: Marsanne;

3.  L'Homme: Marsanne;

4.  La Croix: Marsanne;

5.  La Pierelle: Marsanne;

6.  Le Méal: Syrah, Marsanne;

7.  Les Beaumes: Syrah;

8.  Les Bessards: Syrah;

9.  Les Doignières: Marsanne, Roussanne;

10. Les Doignières et Torras: Marsanne;

11. Les Grandes Vignes ou Gros des Vignes: Syrah; 

10.    Les Greffieux: Syrah;

11.    Les Murets: Marsanne;

12.   Les Rocoules: Marsanne;

13.   Les Vercandières: Syrah, Marsanne;

14.   Maison Blanche: Marsanne, Roussanne;

15.   Plantieres: Syrah;

16.    Péléat: Marsanne, Syrah;

17.   Torras et les Garennes: Marsanne;

18.   Varogne: Syrah.

Desses, Les Bessards (daqui provêm os célebres vinhos Le Pavillon/M. Chapoutier, Cuvée Cathelin/Jean Louis Chave, dentre outros), Le Méal e L’Hermite na parte oeste se destacam pelos solos graníticos e pela altíssima qualidade. Já o lieu-dit Les Bessards origina os vinhos mais tânicos e não raro é a espinha dorsal de vinhos com corte de uvas de diferentes vinhedos da AOP.


Alguns dos lieux-dits se destacam mais pelas uvas brancas, como Chante Alouette (Marsanne; M. Chapoutier produz um incrível branco com esse nome), Les Murets (Marsanne) e Maison Blanche (Marsanne, Roussanne).


Um grande debate entre os produtores de Hermitage reside em elaborar vinhos a partir de um único lieu-dit de forma a destacar um terroir específico ou elaborar vinhos com assemblage de terroirs, o que refletiria a essência do vinho Hermitage. A tradição local pende mais para o segundo grupo.


Produtores como Michel Chapoutier e Ferraton Pères & Fils, embora produzam vinhos Hermitage com cortes de terroirs diversos, defendem a elaboração de vinhos a partir de lieux-dits únicos (ou até parcelas dentro de um determinado lieu-dit). Seus vinhos mais tops são de vinhedos únicos.


Outros produtores como Jean-Louis Chave, Paul Jaboulet Aîné e Guigal defendem o assemblage de terroirs.

Há ainda em Hermitage uma ínfima produção de Vin de Paille (vinho doce elaborado pelo método passerillage) elaborado com Marsanne e/ou Roussanne.


Por fim, em alguns rótulos encontramos a grafia Ermitage, sem o “H”, havendo produtores que usam tanto Hermitage como Ermitage em seus diversos rótulos. 


Ermitage era o nome original da colina, tendo o “H” sido acrescentado no século XIX por conta do comércio com o Reino Unido, facilitando a pronúncia pelos ingleses. 


Não há uma regra específica para o uso com ou sem o “H”, ambos sendo aceitos. Alguns produtores nunca usam a grafia antiga. Já outros, como Chapoutier, Guigal e Ferraton usam Ermitage para destacar seus vinhos de mais alta gama (no caso de Chapoutier e Ferraton vinhos de lieux-dits específicos).  


Santé!

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