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Domingo, 30 de agosto de 2015
A Herdade do Esporão é uma das mais importantes vinícolas do Alentejo, em Portugal. É uma daquelas vinícolas que mantém um alto padrão de qualidade, desde os seus vinhos de entrada até os vinhos de alta gama.
Não obstante a propriedade tenha uma história que remonta ao século XIII, foi em 1973 que a vinícola propriamente dita nasceu, quando José Roquette e Joaquim Bandeira adquiriram a Herdade do Esporão.
A vinícola venceu as dificuldades dos primeiros anos, principalmente a nacionalização da propriedade em março de 1975, realizando sua primeira colheita apenas em 1985, mesmo ano em que lançou a marca Esporão.
Nos anos seguintes, usando práticas modernas, a vinícola se tornou referência não apenas para os vinhos do Alentejo, mas também para os azeites.
Dois pontos merecem destaque por demonstrar a filosofia da Herdade do Esporão: a preservação do sítio arqueológico existente no local datado dos séculos III e IV a.C., descoberta ocorrida em 1996; e a criação em 2010 de um “banco de castas” com 189 variedades, com o intuito de preservar e explorar o patrimônio vitícola português. Quanto a esse campo ampelográfico, um outro objetivo seria também realizar testes para ver quais castas autóctones se adaptam ao solo local e aguentam melhor, em especial por conta das mudanças climáticas.
Em agosto de 2006 visitei pela primeira vez a Herdade do Esporão, em Reguengos de Monsaraz, no Alentejo, em Portugal. Lembro-me ainda hoje como fiquei bem impressionado com a qualidade dos vinhos das variadas gamas.
Recordo-me que o Herdade do Esporão Alicante Bouschet (da linha Monocastas) e o Herdade do Esporão Late Harvest me impressionaram muito na época. O primeiro pelo belo trabalho com essa casta pouco conhecida e não raro subestimada, e o segundo pelo incrível resultado com a Sémillon fora de Bordeaux. Faz alguns meses, inclusive, inclui ambos os rótulos em uma das cartas de vinhos que assino.
Recentemente, já em 2015, tive a oportunidade de retornar à Herdade do Esporão, com familiares e amigos, inclusive o co-autor desse blog, Renato Pellegrini, agora radicado em Portugal, para uma nova experiência (até mesmo porque o centro de enoturismo da vinícola foi reinaugurado em 2012).
Iniciamos nossa visita com uma prova privada de vinhos da linha Esporão Reserva, na verdade uma bela degustação vertical para compararmos a evolução e potencial de guarda dos vinhos dessa linha.
Degustamos os vinhos Esporão Reserva (tintos) das safras 2002, 2006, 2010 e 2011. Os dois primeiros vinhos possuem um corte de Trincadeira, Aragonês e Cabernet Sauvignon, e embora suas cores já revelassem certa evolução, ainda estavam vivos, apresentando o 2002 aromas terciários sobrepostos à fruta. Já o 2010 e o 2011 tinham no assemblage as castas Trincadeira, Aragonês, Cabernet Sauvignon e Alicante Bouschet. Aliás, esta última cepa acabou por representar um toque essencial nos vinhos de gama superior da Herdade do Esporão, demonstrando como essa subestimada uva se adaptou bem ao Alentejo.
Na sequência, a nossa sommelier anfitriã nos propôs um interessante exercício. Degustamos novamente o Esporão Reserva 2011 em duas taças diferentes, a de degustação normal e uma Riedel específica para vinhos elaborados com a Syrah, de forma a podermos comparar a influência da taça para cada vinho. Aqui cabe uma observação, a utilização da taça específica para a Syrah decorre do fato de não existir uma taça criada para o assemblage do Esporão Reserva, e de ter sido verificado pelos sommeliers da vinícola que essa seria a melhor taça para esse vinho. Uma experiência bem interessante e relativamente fácil de ser reproduzida em casa com um grupo de amigos.
Após a degustação, nos dirigimos para o restaurante Esporão para um belo e inesquecível almoço. O restaurante passou por uma reformulação, buscando um toque mais contemporâneo, sem olvidar produtos regionais, sempre harmonizados com os variados vinhos da Herdade do Esporão.
Nesse almoço, iniciamos com um amuse bouche do chef e a primeira entrada, um “requeijão fumado com espargos verdes, ervilhas e alho preto” escoltado do Esporão Verdelho 2014, eleito recentemente o melhor branco de Portugal. Ainda no início tivemos a oportunidade de degustar quatro azeites da Herdade do Esporão.
Na sequência, tivemos um “Pregado, lagostim do rio, brócolo e funcho” harmonizado com dois vinhos o Esporão Reserva 2014 e o Esporão Private Selection branco 2013, um dos meus preferidos, elaborado com a casta francesa Sémillon (consegui comprar na loja da vinícola um 2007, degustado no dia seguinte e que estava espetacular).
Como prato principal, tivemos o “Porco Preto HE” com “mil folhas de batata, favas, copita e borras de licoroso”, escoltado inicialmente com o Esporão Reserva 2012 e depois com o Esporão Private Selection Tinto 2011, um vinho incrível, recentemente distinguido pela Revista de Vinhos (Portugal) como o prêmio de excelência de 2014.
Finalizamos com um prato de queijos regionais.
Após o almoço, participamos da visita às instalações da vinícola, um tour muito didático, e que passa pelas caves subterrâneas da Herdade do Esporão.
Finalizamos o dia com uma visita ao charmoso burgo medieval de Monsaraz, cerca de 10 minutos da vinícola.
Saúde!
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