Grosses Gewächs – Ou Simplesmente GG

Quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Não raro, sou indagado sobre dicas de vinhos, sobretudo o que comprar em determinados países, tarefa, confesso, das mais agradáveis. Nesse contexto, a Alemanha é um dos países mais desafiadores. 


A parte uma lista com vinhos e produtores específicos, sempre aconselho a procurar vinhos com a indicação no rótulo GG, os Grosses Gewächs. Uma dica básica, fácil de memorizar, e infalível. Mas afinal, was ist GG (o que é GG)?

A Alemanha se notabilizou por produzir vinhos extremamente elegantes com a uva branca Riesling, estando entre os melhores do mundo.


Embora a Riesling seja a grande estrela germânica, dos secos aos extremamente doces, a Alemanha produz, em suas diversas regiões, excelentes vinhos com outras cepas, como a branca Sylvaner (sobretudo em Franken ou Francônia em português) ou ainda a Pinot Noir, localmente chamada de Spätburgunder (na Áustria, Blauburgunder), com destaque para as regiões de Pfalz (Palatinado), Franken, Baden, dentre outras. 


No entanto, escolher um vinho alemão com segurança e conhecimento, pode ser uma tarefa complexa. E não me refiro apenas ao idioma em si. Mesmo quem é fluente no idioma de Goethe pode ter dificuldades em decorrência do complexo sistema alemão. 

Em muito apertada síntese, os vinhos alemães podem ser classificados em: 

1) Tafelwein: vinho de mesa engarrafado na Alemanha com uvas de qualquer lugar do mundo (!?);


2) Deutscher Tafelwein: categoria equivalente ao Vin de Pays francês, e, em alguns locais determinados, com requisitos específicos;


3) Qualitätswein: vinhos de uma das 13 regiões específicas e oficiais, as chamadas Anbaugebeit; 


4) Prädikatswein: vinhos com atributos especiais, das regiões oficiais, com classificação baseada no peso mínimo do mosto no momento da colheita (a chamada Öchsle Scale), podendo ser elaborados em diferentes níveis de doçura: Kabinett, Spätlese, Auslese – que podem até mesmo ser totalmente secos – Beerenauslese (pode ou não ter botrytis), Eiswien (não tem  botrytis) e Trockenbeerenauslese (sempre com botrytis).


Ao contrário do sistema francês, o sistema oficial alemão não classifica os vinhos pela qualidade, dificultando ainda mais a escolha do vinho.


No entanto, essa lacuna foi preenchida por um sistema paralelo (não governamental)  criado por uma associação privada de produtores de vinho, a Verband Deutscher Prädikatsweingüter. 


A VDP foi criada em 1910 com os melhores produtores alemães. Seu objetivo inicial era promover práticas vitivinícolas sustentáveis, com vinhos sem “chaptalização (adição de açúcar durante a fermentação, com o objetivo de aumentar o teor final de álcool do vinho), permitida em algumas categorias de vinhos alemães.

Posteriormente ao ano de 1971, quando as regras do sistema alemão atual foram criadas, a VDP passou a adotar como escopo promover os grandes vinhos alemães com base em vinhedos de qualidade superior. 


A partir de 2002, com atualizações de tempos em tempos (e.g. 2006, 2012), a VDP passou a publicar uma classificação baseada na qualidade dos vinhedos, com clara influência do sistema da Borgonha (Grand Cru, Premier Cru, Village e regional). 


Note-se que os vilarejos alemães possuem grande importância na rotulagem dos vinhos, alguns considerados como muito superiores a outros (e.g. Piesport, Bernkastel e Wehlen no Mosel; Schlossböckelheim no Nahe; Johannnisberg e Rüdesheim no Rheingau etc...). Entretanto, a opção do VDP foi claramente seguir o sistema da Borgonha e não o sistema de Champagne (neste os Grand Crus e Premier Crus são baseados no vilarejo e não no vinhedo). 


A classificação doVDP é a seguinte (em ordem decrescente):

1a) Grosses Gewächs: os vinhedos de mais alta qualidade (seriam o equivalente aos Grand Crus);


2a) Erste Gewächs: vinhedos de alta qualidade, porém, inferiores aos Grosses Gewächs (seriam o equivalente aos Premier Crus);


3a) Ortsweine: seriam os Villages vins na classificação da Borgonha;


4a) Gutsweine: vinhos tradicionais da vinícola (aqui não há uma equivalência exata com os vinhos regionais da Borgonha).

Nos rótulos dos vinhos Grosses Gewächs consta apenas o nome do vinhedo, e não a tradicional combinação vilarejo vinhedo. Tais vinhos seguem também regras mais severas, como colheita manual, peso mínimo do mosto e parâmetros de rendimentos baixos dos vinhedos. 


Em geral, essa classificação aparece apenas em Qualitätsweine secos, e as uvas permitidas variam conforme a região.

E o mais importante – e aqui a minha dica básica para facilitar bem a vida do enófilo - nos rótulos das garrafas do vinhos Grosses Gewächs consta um GG com um logo formado por um cacho de uvas colocado na parte superior da garrafa. Fácil, não? 


Prost e Zum Wohl!

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