Entendendo os Portos Late Bottled Vintage

Domingo, 5 de dezembro de 2021

Há cerca de quinze anos atrás quando me interessei com mais afinco pelos vinhos do Porto, meu amigo de tantos copos e cofundador desse blog me deu a dica: os “LBVs são um dos melhores custos-benefícios dentre os vinhos do Porto”. Realmente, os Late Bottled Vintages custam bem menos do que seus irmãos mais velhos e conhecidos, os Portos Vintages.


Mas afinal, o que são os Portos Late Bottled Vintage? Qual seu processo de vinificação? Qual a diferença para os Portos Vintages? O que esperar desses vinhos?

Primeiro, precisamos revisitar alguns conceitos básicos sobre vinhos do Porto. Os Portos são vinhos únicos e fortificados, ou seja, são vinhos nos quais, quando a fermentação chega a 5-9% vol., adiciona-se aguardente vínica neutra, interrompendo-se a fermentação. Esse processo é chamado pelos franceses de mutage, e a adição de aguardente vínica durante a fermentação mata as leveduras, fazendo com que o vinho fique com uma doçura considerável e com um nível alcóolico entre 19% e 22% vol.

Os vinhos do Porto tintos se dividem em duas grandes categorias: Ruby e Tawny. Basicamente a diferença entre essas categorias - que vão contar, por seu turno com diversas subcategorias - reside no tipo de recipiente utilizado e um maior ou menor contato do vinho com oxigênio durante seu envelhecimento.


Nos vinhos do tipo Ruby os produtores buscam minimizar o efeito do oxigênio no vinho, envelhecendo os vinhos em grandes recipientes de carvalho ou em tanques de aço inox por curtos períodos.

Já os Tawnies envelhecem por longos períodos e de forma oxidativa em “pipas”, que são barris de carvalho menores que os usados para os vinhos do tipo Ruby.


Os LBVs, por seu turno, são uma categoria de vinhos do Porto Ruby. Segundo o Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, o vinho Late Bottled Vintage é um “Porto Ruby de um só ano, selecionado pela sua elevada qualidade engarrafado depois de um período de envelhecimento de entre quatro a seis anos” (https://www.ivdp.pt/pt/vinhos/vinhos-do-porto/categorias-especiais/).


Os vinhos do Porto Late Bottled Vintage foram criados em 1970 por Alistair Robertson, atual presidente da Taylor’s, como uma espécie de segundo vinho, uma alternativa aos Portos Vintage. O objetivo era um vinho mais em conta que os Portos Vintage e que também estivesse pronto para ser bebido mais cedo.


Os LBVs são sempre de uma única safra, tal qual os Vintages, e envelhecem de 4 a 6 anos antes de serem engarrafados.


Mesmo dentro da categoria dos LBVs há algumas distinções. A maior parte dos vinhos LBV é filtrada e estabilizada antes do engarrafamento. São mais similares aos Portos Ruby de entrada e reservas, já prontos para beber quando lançados no mercado e raramente se beneficiando do envelhecimento em garrafa, ao contrário dos Portos Vintage. São exemplos desse estilo os vinhos LBV das casas Càlem, Ramos Pinto, Cockburn’s e Sandeman.


Um segundo tipo de vinhos do Porto Late Bottled Vintage consiste em vinhos que não são filtrados antes do engarrafamento. Esses vinhos são mais similares aos Portos Vintage e podem se beneficiar de tempo em garrafa. Por não serem filtrados, possuem um depósito de sedimentos no fundo da garrafa e por vezes precisam ser decantados. Exemplos desse tipo são os vinhos LBV das casas Taylor’s, Fonseca, Smith Woodhouse, Quinta do Crasto, Graham’s e Dow’s. 


Como aprendi anos atrás com meu amigo e pude comprovar ao longo dos anos, os vinhos do Porto Late Bottled Vintage podem ser excelentes opções aos Vintages, em especial em épocas de câmbio tão desfavorável para nós brasileiros.


Saúde!

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