Domaine Weinbach, um Tesouro da Alsácia

Segunda-feira, 5 de novembro de 2018

A Alsácia possui centenas de produtores, de cooperativas a domaines familiares, estando a esmagadora maioria aberta à visitação. São inúmeras as cidadezinhas e vilas charmosas, rodeadas por vinhedos para descobrir e explorar. Trata-se de uma região com grande vocação para o enoturismo.


Escolher as vinícolas a serem visitadas, por conseguinte, não é uma tarefa simples, porém muito prazerosa.

Dentre as centenas de vinícolas que tive o prazer de visitar, foi a Domaine Weinbach que fez-me sentir como se estivesse na casa de velhos amigos. Aliada à calorosa recepção da Famille Faller, os incríveis vinhos do Domaine Weinbach tornam a visita a esta vinícola uma parada obrigatória na jornada de qualquer enófilo pela Alsace.


A origem do Domaine Weinbach remonta ao longínquo ano de 1612, quando frades capuchinhos fundaram a vinícola no local hoje conhecido como Clos des Capucins. Exatamente onde fica a sede do domaine e um dos terroirs explorados. Importante notar que desde o século IX já havia vinhas plantadas no local.


Durante a revolução francesa as terras do domaine foram confiscadas e vendidas como propriedade nacional, até que em 1898, o Domaine Weinbach foi comprado pelos irmãos Faller, e posteriormente herdado pelo filho e sobrinho Théo Faller.

A partir de 1979 o domaine passou a ser administrador por sua esposa Colette e por suas filhas, Catherine e Laurence.


Desde 2016, Catherine administra a vinícola com a ajuda de seus filhos Eddy e Théo Faller, sendo este o atual enólogo.


O Domaine Weinbach se localiza na chamada Route du Vin da Alsácia, nas proximidades da charmosa Kaysersberg, próximo aos sopés das colinas onde se situa o célebre Grand Cru Schlossberg.


Em 1998 o Domaine Weinbach abraçou a biodinâmica em parte de seus vinhedos, e desde 2005 a totalidade de suas terras passou a ser cultivada usando a  chamada viticultura biodinâmica. Hoje toda a sua produção é certificada como orgânica (certificação Ecocert) e como biodinâmica (certificação Demeter). A filosofia da Família Faller reside na busca por vinhos mais puros e autênticos, que expressem os seus diversos terroirs.


O Clos des Capucins é um monopólio que rodeia a sede da vinícola com solo arenoso e lodoso e base de dois vinhos principais da vinícola, os Cuvées Théo Gewurtztraminer e Riesling.

O Lieu-dit Altenbourg se localiza em Kientzheim, e fica entre 220 e 300 metros de altitude logo abaixo do Grand Cru Furstentum, com solos de marga (calcário com cerca de 35 a 60% de argila), calcário e arenito, muito similar ao de Furstentum, porém com mais areia.


Aqui vale abrir um parêntese sobre o sistema de Appellations d'Origine Contrôlée (AOC) na Alsácia para vinhos tranquilos. As AOCS se dividem apenas em Alsace AOCe Alsace Grand Cru AOC, não havendo AOCs comunais ou uma categoria de Premier Cru, como ocorre na Borgonha. No entanto, muitos produtores defendem a colocação – e assim o fazem - nos rótulos dos vinhos Alsace AOC dos nomes das cidades (o que é permitido desde o início da década de 2000) e dos vinhedos ou parcelas de vinhedos não classificados como Grand Crus, os chamados Lieu-dit. Há vignerons, como Marcel Deiss, que defendem a criação de uma categoria de Premier Crus, mas isso é tema para um post específico. Assim, podemos dizer que Altenbourg seria o equivalente a um Premier Cru. Leia mais aqui, aqui e aqui


O Grand Cru Schlossberg, o primeiro vinhedo alsaciano a obter o status de Grand Cru, se caracteriza por solos arenosos e graníticos ricos em minerais que determinam a complexidade aromática dos seus vinhos. Desse Grand Cru se origina a maior parte dos Rieslings do Domaine Weinbach.

Já o Grand Cru Furstentum, localizado entre as vilas de  Kientzheim e Sigolsheim, se destaca por seus vinhos aromáticos Gewurztraminer. Situado entre 300 e 400m de altitude, os solos marrons do Furstentum são ricos em calcário, seixos, filtragem, com superfície rochosa. 


O Grand Cru Mambourg, com exposição sudeste, se localiza perto da vila de Sigolsheim, perto do vale de Kaysensberg, entre 210 e 350 metros de altitude. Possui solos calcários ricos em cálcio e em magnésio. Daqui se originam vinhos Gewurztraminer extremamente complexos e aromáticos.


Por fim, o Grand Cru Marckrain localizado ao sul da vila de Bennwihr, na saída do vale Kaysersberg, possui solo com seixos calcários e conglomerados costeiros, daqui se originando alguns dos Pinot Gris e Gewurztraminer do Domaine Weinbach.


Fomos recepcionados pela encantadora Catherine Faller que, em seguida, nos apresentou ao seu simpático filho Eddy. 


Eddy nos apresentou a alguns dos vinhos do Domaine Weinbach, e nos contou sobre a Alsácia e seus vinhos, explicando a filosofia da vinícola, os diferentes terroirs alsacianos. Uma verdadeira aula!


A degustação ocorreu na própria casa da família Faller, na imensa, elegante e aconchegante cozinha, onde ocorrem as degustações, o epicentro da casa. Um ponto a destacar para os leitores é que Eddy Faller é fluente em português, tendo morado muitos anos em São Paulo.

Degustamos os seguintes vinhos:


vDomaine Weinbach Pinot Noir Réserve 2016 (Alsace AOC);


vDomaine Weinbach Pinot Noir W 2016 (Alsace AOC);


vDomaine Weinbach Pinot Blanc 2017 (Alsace AOC);


vDomaine Weinbach Muscat 2017 (Alsace AOC);


vDomaine Weinbach Cuvée Colette Riesling 2016 (Alsace AOC);


vDomaine Weinbach Schlossberg Riesling 2016 (Alsace Grand Cru AOC);


vDomaine Weinbach Réserve Particulière Pinot Gris 2016 (Alsace AOC);


vDomaine Weinbach Pinot Gris Altenbourg 2016 (Alsace AOC);


vDomaine Weinbach Pinot Gris Altenbourg 2007 (Alsace AOC);


vDomaine Weinbach Gewurtztraminer Cuvée Théo 2016 (Alsace AOC);


vDomaine Weinbach Gewurtztraminer Altenbourg 2016 (Alsace AOC);


vDomaine Weinbach Gewurtztraminer Furstentum 2016 (Alsace Grand Cru AOC);


vDomaine Weinbach Gewurtztraminer Furstentum Vendages Tardives 2007 (Alsace Grand Cru AOC).


Vale destacar que na Alsácia, de forma muito similar com o que usualmente ocorre na Borgonha, as degustações se iniciam pelos vinhos tintos.


Outro ponto a sublinhar reside na ordem dos brancos servidos, sempre começando pelo mais seco, passando pelos meio secos, meio doces, até os doces. 


Uma das grandes críticas ao sistema alsaciano reside na ausência de indicações padronizadas nos rótulos dos vinhos indicando se são secos, off dry etc, salvo os das categorias Vendanges Tardives e Sélection de Grains Nobles, necessariamente doces. Há produtores que colocam no contra-rótulo de seus vinhos suas próprias escalas numéricas para indicar o grau de açúcar residual.


O painel de vinhos degustados demonstrou a razão do Domaine Weinbach ser considerado pela crítica especializada como um dos melhores produtores da Alsácia, com um nível alto de qualidade em todos os vinhos e tipicidade, inclusive nos vinhos de entrada. Mesmo vinhos de uvas não tão expressivas ou complexas como a Pinot Blanc e a Muscat apresentam uma impressão mais saborosa e frutada.


Além dos dois vinhos com mais de dez anos provados demonstrando a capacidade de guarda dos vinhos alsacianos, o grande destaque (talvez porque sou um grande fã da Riesling), sem qualquer dúvida, foram os dois Rieslings degustados. 


Por fim, não podemos olvidar de destacar o Pinot Noir W, aveludado, macio e elegante, de longe o melhor Pinot Noir provado nessa viagem à Alsácia.


Um brinde à família Faller! Santé!


Nota do autor: Na Alsácia a grafia utilizada é "Gewurztraminer", e, não, como na Alemanha, "Gewürztraminer". 

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