Domaine des Arpents du Soleil, a Primeira Vinícola da Normandia

Segunda-feira, 11 de outubro de 2021

A Normandia é uma das poucas regiões francesas que não é reconhecida como produtora de vinhos. Os destaques gourmets normandos ficam por conta das refrescantes cidres e dos potentes Calvados – perfeitos em dias frios ou para o trou normand (como os normandos chamam o hábito de beber, entre as etapas de uma longa refeição, um copinho de Calvados para limpar o palato, ajudar na digestão e prosseguir na maratona gastronômica), e dos seus deliciosos queijos (Livarot, Pont-l'Évêque, Neufchâtel e Camembert, todos de leite de vaca e macios, variando de formato e de intensidade de sabores).

Por razões pessoais, antes da pandemia viajava de tempos em tempos para Rouen e aproveitava para explorar a Normandia. Certa vez, em uma parada na estrada nas cercanias de Caen, no departamento de Calvados, deparei-me, num totem. com folhetos turísticos diversos e dentre eles um que me chamou a atenção. Era um folheto sobre uma vinícola. E, para meu espanto, uma vinícola normanda!


Guardei o folheto por alguns anos e anotei o nome da vinícola e algumas outras informações para uma visita em uma nova viagem. 

Até que em setembro de 2019, finalmente consegui encaixar uma visita ao Domaine des Arpents du Soleil (ou apenas Les Arpents du Soleil), já que as visitas guiadas ocorrem apenas às quintas-feiras.


Embora a Normandia não seja conhecida como uma região de vinhos, como já dito, na idade média os monges cultivavam as vinhas produzindo vinhos na região, o que foi interrompido com a revolução francesa. Tradição essa agora resgatada por Gérard Samson, o visionário proprietário do Arpents du Soleil, que trocou sua carreira de notaire pela de enólogo.

O Domaine des Arpents du Soleil fica no coração da Normandie nas proximidades dos vilarejos de Grisy e Saint Pierre sur Dives, no departamento de Calvados. 


A vinícola conta com um pouco mais de 6 hectares e seu vinhedo está plantado nas encostas e no topo de uma colina, com exposição sul,  contando com um microclima seco e quente, com poucas chuvas.


Os solos são calcários, cobertos por uma fina camada de terra, permitindo uma boa drenagem, de forma similar a alguns pontos da Borgonha, como Gérard Samson destaca logo no início do tour ao parar em frente a uma espécie de corte no morro que deixa à mostra o solo.


A visita guiada com Monsieur Samson é extremamente didática centrando-se no passeio pelos vinhedos e terminando com a degustação de alguns de seus vinhos de produção limitada. 


A primeira safra comercial da vinícola foi em 1998 e logo foi selecionada pelo prestigioso guia Hachette, trazendo credibilidade para a vinícola. 


Os vinhos são em sua maioria secos e elaborados com a Pinot Noir (lembra muitos os alsacianos com essa uva),  Auxerrois Blanc (supreendente e meu favorito na degustação), Pinot Gris  e um corte de Chardonnay, Sauvignon Blanc, Melon de Bourgogne e Muller-Thurgau. Há ainda o Arpentissime, um vinho branco licoroso de corte não revelado elaborado com a técnica dos vins de paille.


Uma curiosidade é a opção do produtor em utilizar, em regra, garrafas de 500ml no lugar das tradicionais garrafas de 750ml. Há, porém, algumas opções disponíveis em Magnuns, em 375ml (especificamente no caso do Arpentissime), e duas opções de 750ml (os novos Pinot Noir Revelation L'esprit des Arpents e o Chardonnay Connivence L'esprit des Arpents).


Ano a ano os pioneiros vinhos normandos do Domaine des Arpents du Soleil vêm sendo descobertos por mais e mais enófilos, além dos leitores do Guide Hachette. E o ex-notário, Monsieur Samson, não apenas elaborou vinhos, mas criou (ou resgatou) uma nova região vinícola na França. 


Santé!

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