Dica de Livro: Vinho Fino Brasileiro

Domingo, 20 de março de 2016

Costumo dizer que não há um mundo do vinho, mas diversos mundos. Cada país, cada região, apresenta sua própria lógica, seus próprios hábitos que vão desde a forma como o consumidor local interage com o vinho (harmonizações, os vinhos que usa como aperitivo, para iniciar uma refeição ou para encerrar etc...), a maneira como se adquire os vinhos domésticos (clubes locais, lojas, compras diretamente das vinícolas), passando pelo enoturismo, até a produção em si (técnicas utilizadas, as uvas em si etc...).


Para entender o ponto de vista do enófilo local, busco sempre revistas, guias, livros locais  especializados. Junto com a visita do local em si, é uma excelente forma de mergulhar em um novo mundo do vinho.


No Brasil, sempre me ressenti que não houvesse uma obra que apresentasse um amplo e detalhado panorama da indústria do vinho fino brasileiro (no Brasil, utiliza-se o termo “vinho fino” para vinhos elaborados com uvas vitis vinífera em contraposição aos “vinhos de mesa” elaborados com outras variedades como as vitis labrusca). 


Entretanto, há algumas semanas me deparei com o livro Vinho Fino Brasileiro, do especialista e professor da Fundação Getúlio Vargas Rogerio Dardeau, e publicado pela Mauad X. Já havia lido, muitos anos antes, Vinhos – Uma Festa dos Sentidos do mesmo autor e não relutei em comprar seu novo livro, lido em apenas alguns dias.


Vinho Fino Brasileiro apresenta o atual estágio do vinho brasileiro, sem descuidar em contar os primórdios da indústria vitivinícola nacional, traçando um acurado panorama histórico. Além do aspecto histórico, são apresentadas ao leitor as práticas e uvas utilizadas, as regiões produtoras (mesmo as menos conhecidas), e até mesmo sugestões de harmonizações com pratos da culinária brasileira.

Por outro lado, o livro apresenta a sistemática legal brasileira sobre o tema, detalhando e simplificando-a para o leitor, com destaque para as modalidades de indicações geográficas (Denominação de Origem – DO, e Indicação de Procedência - IP).


No entanto, a grande contribuição de Rogerio Dardeau reside nas sugestões de conceitos e de sistematização do vinho nacional e os respectivos terroirs. Dentre os conceitos apresentados, o de “vinho brasileiro de terroir” (VBdT) é o grande destaque, em nossa humilde opinião. Já na sistematização, a proposta do autor em classificar os produtores (“Vinícolas tradicionais de grande porte”, “Vinícolas tradicionais de médio porte”, Vinícolas tradicionais de pequeno a médio portes”, “Vinícolas-butique”, “Vinhos de autor ou de garagem” e “Grandes investimentos vitivinícolas do Vale do Rio São Francisco”) permite ao leitor se situar com segurança no amplo cenário do vinho nacional, mostrando-se uma importantíssima contribuição ao tema.


Vinho Fino Brasileiro serve ainda de guia ao enófilo em suas compras ou viagens, listando, senão todas, quase todas as vinícolas em atividade no país, contando um pouco das história de cada uma (em viagem ao Vale dos Vinhedos, RS, vi um visitante em uma vinícola consultando o livro enquanto degustava).


Uma obra essencial à biblioteca de qualquer enófilo, mostrando a grande revolução em curso no mundo do vinho brasileiro. Saúde!

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