Descobrindo a Califórnia: Sonoma County

Sábado, 29 de março de 2014

Sonoma é uma região vizinha a Napa Valley que, embora menos badalada e mais low profile, produz vinhos incríveis, desde a Chardonnay e a delicada e difícil Pinot Noir, em suas áreas mais frias, até potentes vinhos com a Zinfandel e com a Cabernet Sauvignon, em suas áreas mais quentes, não ficando nada a dever à sua vizinha mais famosa (basta pensar no Silver Oak Cabernet Sauvignon Alexander Valley).


Ao contrário de Napa, as diversas subregiões de Sonoma se estendem por um território muito maior, com diversos microclimas distintos e, consequentemente, com maiores distâncias de deslocamento.

O condado de Sonoma possui diversas American Viticultural Areas (AVAs) em seu território, não sendo por si só uma AVA. As AVAs de Sonoma são: Sonoma Valley, Sonoma Mountain (que se insere dentro de Sonoma Valley), Sonoma Coast, Alexander Valley, Russian River Valley (nas quais estão inseridas as sub-AVAs de Green Valley e de Chalk Hill), Dry Creek Valley, Knight Valley, Northern Sonoma, Rockpile, Bennet Valley, Carneros (que se estende de Napa Valley a Sonoma) e North Coast, AVA que se estende por Sonoma, Napa, Lake Marin e Mendocino counties.


O primeiro dilema era onde ficar hospedados, no norte ou no sul, Sonoma, a cidade, ou Healdsburg, ou alguma cidade mais central no vale, como Santa Rosa? Após alguma pesquisa, com a árdua tarefa de selecionar as vinícolas a serem visitadas, seguimos o conselho de Camile Seghesio, a quem havíamos conhecido anteriormente, e decidimos pela charmosa Healdsburg, mais ao norte.


Basicamente, nossas explorações se concentraram na parte norte de Sonoma, mais especificamente Russian River Valley, Dry Creek Valley e Alexander Valley, com uma rápida passada no Sonoma Valley.

1º dia

Saímos cedo de Saint Helena (Napa Valley) rumo à Healdsburg, no condado de Sonoma. Dentre as rotas possíveis, optamos por seguir para o norte, até Calistoga, de onde cruzamos parte do Knights Valley e de Chalk Hill, chegando nas cercanias de Windsor, já no condado de Sonoma e de lá rumando, via Highway 101, até Healdsburg. Optamos por esse caminho, pois a maior parte era em meio a natureza das montanhas. Uma viagem agradável de aproximadamente 40 minutos.


Após deixarmos as malas no nosso hotel em Healdsburg, seguimos direto em direção à tradicional Chateau St. Jean, em Kenwood, no Sonoma Valley.


O Chateau St. Jean produz diversas linhas de vinhos, com uma variedade grande, porém com um bom padrão de qualidade. Após fazermos a degustação (com destaque para alguns Pinot Noirs de diferentes sub-AVAs de Sonoma), compramos taças do Pinot Noir de Sonoma Coast, alguns sanduiches e queijos, e fizemos um piquenique na bela área da vinícola. Um dos grandes diferenciais do Chateau St. Jean é justamente seus charmosos jardins (ótimos para crianças), com mesas espalhadas para piqueniques, e a sua lojinha (a deli e a enorme parte de acessórios de vinho e livros).


De lá paramos em Santa Rosa, onde visitamos o Charles M. Schultz Museum, o criador de Charlie Brown, do Snoopy e tantos outros maravilhosos personagens. O criador dos Peanuts viveu a maior parte de sua vida em Santa Rosa, sendo este um programa imperdível para os pequenos e para os adultos também.


Para fechar o dia com chave de ouro, visitamos a Francis Ford Coppola, que fica em Geyserville (Alexander Valley). Trata-se da segunda vinícola do famoso diretor de cinema (a primeira fica em Napa Valley e atualmente se chama Niebaum-Coppola Rubicon Estate). Além da sala de degustação, a vinícola possui um museu do cinema, com objetos, roupas e até carros de filmes do diretor, e um restaurante, o Rustic Francis's Favorites, despretensioso, do tipo bom e barato, com uma comida deliciosa (as receitas preferidas do diretor).


E como se não bastasse, a vinícola possui ainda uma grande piscina aberta ao público, que pode alugar cabines para deixar suas coisas e tomar uma ducha!


As degustações oferecidas são três: uma mais simples com 3 vinhos, a Family Tasting; a Neighbors Tasting, com quatro vinhos, ambas mudando com frequência os vinhos servidos; e, por fim, a degustação do flagship da vinícola, o Archimedes (o flagship aqui é diverso do da Niebaum-Coppola Rubicon State em Napa). Além dessas 3 opções, são oferecidos como cortesia os vinhos Coppola Rosso e Coppola Bianco, vinhos simples, concebidos pelo diretor como vini da tavola italianos para acompanhar a comida.


Além do Coppola Rosso, do Coppola Bianco e do fabuloso Archimedes 2006 (um corte bordalês de Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, com estágio de 24 meses em carvalho francês), optamos pela Neighbors Tasting, na qual degustamos os seguintes vinhos: 2009 Director's Cut Russian River Valley Chardonnay, 2008 Director's Cut Sonoma Coast Pinot Noir, 2008 Francis Coppola Reserve Dry Creek Valley Syrah e o 2007 Francis Coppola Reserve Knight's Valley Cabernet Sauvignon. E encerramos com um jantar bem gostoso no Rustic Francis's Favorities com um Director's Cut Dry Creek Valleu Zinfandel 2008.

2º dia

No segundo dia, pela manhã visitamos a Rodney Strong Vineyards, que fica em Healdsburg. Ali tivemos a oportunidade de conhecer uma diferente gama de terroirs de Sonoma. O escopo da degustação oferecida era oferecer um panorama geral das AVAs Russian River Valley (e Chalk Hill, sub-AVA nesta inserida) e Alexander Valley, e seus diversos estilos de vinhos, inclusive os de vinhedos únicos.


Começamos com o 2009 Rodney Strong Chardonnay Chalk Hill, seguido do 2008 Rodney Strong Chardonnay Reserve Russian River Valley. Passamos, então aos vinhos Pinot Noir, degustando o Rodney Strong 2009 Pinot Noir Russian River Valley e o 2008 Pinot Noir Reserve Russian River Valley.


Em seguida, degustamos uma série de vinhos de Cabernet Sauvignon (ou com a sua predominância, no caso do Meritage), todos de Alexander Valley, e diferentes entre si: 2007 Cabernet Sauvignon Reserve, 2007 Simmetry Meritage, 2007 Brother's Ridge Cabernet Sauvignon, 2007 Rockaway Cabernet Sauvignon, 2008 Alexander's Crown Cabernet Sauvignon (os nomes dos três últimos fazem alusão aos respectivos vinhedos). Encerramos com um 2007 Robert Young A True Gentleman Port (muitas vinícolas californianas usam indevidamente a denominação Port para se referir a vinhos fortificados no estilo dos vinhos do Porto e, com todo respeito, seus vinhos estão muito aquém dos vinhos do Porto).


O dia já havia começado em grande estilo, porém a visita seguinte superou ainda mais as expectativas: Seghesio Family Vineyards, bem no centro de Healdsburg, a apenas dois minutos de carro do nosso hotel.


Havíamos conhecido, cerca de um ano antes de nossa viagem, Camile Seghesio, que, ao saber de nossa viagem para Sonoma em 2011, nos havia convidado para visitar a Seghesio Family Vineyards, e nos fornecido valiosas dicas.


Assim, já agendados para uma visita com harmonização de vários vinhos com pratos da cozinha italiana, começamos o tour com um belo Pinot Noir (Sub-Ava Sonoma Coast, safra 2008) de boas-vindas.


Visitamos as instalações da Seghesio Family Vineyards, conhecendo a incrível história dessa família de origem piemontesa, que bravamente sobreviveu aos difíceis tempos da Lei Seca nos Estados Unidos. E durante o tour, nosso anfitrião Andy nos brindava com taças dos diversos vinhos da vinícola. Basicamente, os vinhos que nos foram oferecidos não são importados para o Brasil. A intenção de Camile era nos apresentar a novos vinhos e nos surpreender (o que conseguiu, positivamente).

Finalizamos o tour em uma das Seghesio's Family Table Room, exclusivamente reservada para a gente. Lá degustamos quatro pratos, o último de queijos com frutas, com os seguintes vinhos da Seghesio Family Vineyards: Arneis 2009, Aglianico 2008, Ormaggio 2008 (um corte de Cabernet Sauvignon e Sangiovese), um Zinfandel Home Ranch 2007, e o Dionica 2008, um vinho no estilo dos vinhos do Porto.


Uma experiência inesquecível e um dos pontos altos da nossa viagem, marcada pela hospitalidade da família Seghesio.


De lá, rumamos para a famosa Ridge Vineyards (Lytton Springs), pertinho de Healdsburg. Essa vinícola, originária de Santa Cruz, foi uma das participantes do histórico Julgamento de Paris em 1976, com seu Ridge Vineyards Monte Bello 1971.


Degustamos, além do Monte Bello 2007 (um corte bordalês com prevalência de Cabernet Sauvignon da AVA Santa Cruz Mountains, fora de Sonoma County), os seguintes vinhos: 2009 Jimsomare Chardonnay, 2007 Lytton Springs (71% Zinfandel, 22% Petite Syrah, 7% Carignan), 2007 Geyserville (58% Zinfandel, 18% Petite Syrah, 22% Cariginane, 7% Mataro, como é mais conhecida na Califórnia a Mourvèrdre).


Para encerrar o dia nos dirigimos ao charmoso centro de Healdsburg para jantar. Enquanto meu filho dormia no carrinho e esperávamos um pouco (ainda eram quatro da tarde), acabamos fazendo mais uma surpreendente degustação.


Aqui, antes, um parêntese. O centro de Healdsburg conta com muitas tasting rooms, algumas de vinícolas específicas, como as gingantes Kendall-Jackson e Gallo, outras da união de vinícolas pequenas, familiares, além de lojas especializadas que também franqueiam degustações.

E assim como quem não quer nada, acabamos entrando na Boisset Family Estates, sendo recebidos com um Crémant de Bourgogne rosé. A Boisset é uma família francesa que além de propriedades na França, sobretudo na Borgonha, expandiu seu império para a Califórnia, além de outros países, comprando vinícolas tradicionais, como a DeLoach e a Buena Vista, sempre com foco principal em vinhos com a Pinot Noir.


Optamos pela original degustação Boisset Taste of Terroir - Tête a Tête, na qual degustamos dois vinhos californianos e dois vinhos da Borgonha, todos tintos e de Pinot Noir: 2007 DeLoach Vineyards O. F. S. Pinot Noir, 2006 JCR by Jean-Charles Boisset n. 7 Pinot Noir, 2004 Jean-Claude Boisset Chambolle-Musigny 1er Cru Les Groseilles, 2005 Jean-Claude Gevrey-Chambertain Les Evocelles. E, para a brincadeira ficar mais divertida, optamos por não saber a ordem em que os vinhos eram servidos.


3º dia

Iniciamos o dia explorando o Dry Creek Valley. A primeira vinícola visitada foi a Ferrari-Carano Vineyards and Winery, uma das mais tradicionais da região.

Além da bela arquitetura do local, que lembra um clássico Château de Bordeaux, com belíssimos jardins há uma grande gama de rótulos, alguns mais simples e outros bem especiais. Existem duas degustações disponíveis, a Classic Wines, servida na sala de degustaçõ principal, no andar térreo, e a mais exclusiva, a Limited Release Wines, na bela adega subterrânea da vinícola. Em ambas, há uma lista dos vinhos disponíveis e da qual se escolhem alguns rótulos para degustar.


Optamos pela Limited Release Wines, e escolhemos os seguintes vinhos: 2008 Chardonnay Reserve Carneros, Trésor Alexander Valley safras 2004 e 2007 (um corte bordalês com prevalência de 84% de Cabernet Sauvignon mesclada com 6% Petit Verdot, 4% Merlot, 2% Cabernet Franc e 4% Malbec, variando as percentagens conforme a safra), PreVail West Face Alexander Valley (64% Cabernet Sauvignon e 36% Syrah) safras 2004 e 2006, e PreVail Back Forty Alexander Valley (100% Cabernet Sauvignon) safras 2004 e 2006. O atendente ainda nos ofereceu o 2009 Siena Sonoma County (um intrigante corte de 74% Sangiovese, 16% Malbec e 8% Syrah), um dos rótulos mais conhecidos da Ferrari-Carano.

Em seguida, nos dirigimos para a Zichichi Family Vineyards, pequena vinícola familiar (lei mais sobre a Zichichi Family Vineyards aqui), pouco conhecida, e com um grande tesouro. Havíamos lido sobre os fantásticos vinhos Zinfandel na revista Wine Enthusiast cerca de um ano antes e colocamos em nossa lista. Não há taxa de degustação, e os vinhos são incríveis.


Logo no primeiro vinho degustado, o 2007 Zichichi Family Estate Zinfandel constatamos a qualidade do vinho, impressionante. E o seguinte, o 2007 Zichichi Family Old Vines Zinfandel, mais incrível ainda! E ainda teve um 2007 Zichichi Family Cabernet Sauvignon Napa Valley muito bom, porém ofuscado pelos incríveis Zinfandels. E além de poder repetir todos os vinhos, ainda houve prova diretamente do barril de dois Zinfandels da vinícola, da safra 2010.


Com certeza, junto com os da Seghesio, os melhores Zinfandels que já provei. Vale observar que os vinhos da Zichichi são de produção limitadíssima e difíceis de encontrar (por isso comprei quatro garrafas).

Rumamos, então, para o Russian River Valley.


Começamos pela Hartford Family Winery (leia mais sobre essa vinícola aqui), que produz um dos nossos vinhos Pinot Noir favoritos, o Land's Edge. A vinícola especializada em vinhos Pinot Noir, de diferentes subzonas de Sonoma e de vinhedos específicos, também produz excelentes vinhos Chardonnay, Zinfandel e Syrah. Todos de altíssima qualidade.


Assim, provamos dois vinhos Chardonnay (o 2009 Four Hearts e o 2007 Laura's), cinco vinhos Pinot Noir (Land's Edge safras 2005, 2006 e 2007, 2008 Hailey's Block e o 2007 Far Coast Vineyard), dois vinhos Zinfandel (2008 Russian River e 2008 Highwire Vineyards) e, por fim, o 2007 Outer Limits Syrah.


Após, ainda visitamos a bela Martinelli Winery, onde degustamos bons vinhos Chardonnay, Pinot Noir e Zinfandel. Os destaques aqui foram o 2008 Zio Tony Ranch Chardonnay e o 2008 Zio Tony Ranch Pinot Noir. Belíssimos vinhos! A vinícola funciona em um celeiro vermelho e nosso filho adorou.


Por último, visitamos a Harvest Moon Estate Vineyards, vinícola familiar, com produção minúscula, porém de excelente custo-benefício.


Para fechar com chave de ouro nossa estada em Sonoma, jantamos no Dry Creek Kitchen, do Chef Charlie Palmer. Esse é o restaurante pelo qual o renomado chef buscou retornar às suas origens, com ingredientes locais frescos e orgânicos. Para os vinhos de Sonoma não é cobrada qualquer taxa de rolha. Vale a visita, porém imprescindível reservar previamente.


Cheers!

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