Desbravando as Denominações de Origem Italianas – Montecompatri Colonna D.O.C.

Quinta-feira, 18 de abril de 2019

A Itália é um dos países com a maior riqueza enológica existente, produzindo vinhos em praticamente todas as suas regiões, do norte ao sul, passando por suas ilhas, Sardegna e a Sicilia. 


A variedade de uvas autóctones na Itália é imensa. O Ministério da Agricultura e Silvicultura italiano documenta centenas e centenas de cepas, entre nativas e estrangeiras. Jancis Robinson, Julia Harding e José Vouillamoz listam e analisam, em sua indispensável obra Wine Grapes – A Complete Guide to 1,368 Vine Varieties, Including Their Origins and Flavours, nada menos do que 377 variedades autóctones italianas! Tal fato já demonstra por si só a riqueza da viticultura italiana.

Na Itália há vinhos brancos, espumantes, frisantes, rosados, laranjas/âmbar, tintos, de sobremesa, nos mais variados estilos, alguns bem fora do usual como, por exemplo, vinhos elaborados com a técnica do appassimento (e.g. Amarone de Valpolicella; Sforzato di Valtellina). 


Existem, em toda Itália, aproximadamente 334 D.O.C. (Denominazione di Origine Controllata), 74 D.O.C.G. (Denominazione di Origine Controllata e Garantita) e 118 I.G.T. (Indicazione Geografica Tipica).


Nesse ponto, vale uma breve observação sobre o novo sistema europeu de hierarquização de vinhos.


Desde 1o de agosto de 2009, em decorrência de regras comunitárias europeias, a hierarquização dos sistemas de vinhos dos países europeus mudou, passando a adotar a seguinte forma (em suas variações nos diversos idiomas nacionais dos países europeus): 

A) vinhos de denominação de origem protegida;

B) vinhos com indicação geográfica protegida; 

C) vinhos genéricos com safra e uva indicados;

D) vinhos genéricos (sem qualquer informação de safra e uva).

Contudo, o regulamento comunitário europeu ressalvou a possibilidade dos países membros continuarem a utilizar as próprias menções tradicionais.


Dessa sorte, os vinhos com Denominazione di Origine Protetta passaram a abarcar os vinhos D.O.C. (Denominazione di Origine Controllata) e D.O.C.G. (Denominazione di Origine Controllata e Garantita); e os vinhos com Indicazione Geografica Protetta passaram a englobar os vinhos I.G.T. (Indicazione Geografica Tipica), restando autorizadas, como dissemos antes, as menções tradicionais nos rótulos alternativamente ao uso das novas nomenclaturas.


Por tudo isso, como se percebe, o patrimônio vitivinícola italiano é vasto e de uma riqueza imensa.


No entanto, até mesmo por algumas dessas denominações de vinhos apresentarem uma produção pequena ou não terem a fama de outras, encontrar seus vinhos fora da Itália pode ser difícil ou até mesmo impossível. Muitas vezes sequer já ouvimos falar dessas denominações.

Acabamos, dessa forma, nos limitando aos vinhos de denominações mais famosas e célebres, privando-nos de desbravar novas regiões italianas e provar novos vinhos. 


Por outro lado, até mesmo pelo gigantismo italiano, com centenas de denominações, com vinhos com uvas não tão conhecidas internacionalmente - ok, todo mundo já ouviu falar em Sangiovese e Nebbiolo, mas poucos ouviram falar em Grillo, Greco, Oseleta, Ribolla Gialla, dentre tantas outras -, muitas vezes o apreciador tem medo de escolher algo que fuja aos vinhos que conhece ou tem prévia referência. 


Em recente viagem à Itália reservei um “espaço” para desbravar novas regiões, degustando vinhos até então, para mim, inéditos; alguns de denominações que só conhecia dos livros, e outras, confesso, totalmente inéditas.


Em Roma, procurei provar alguns vinhos da região do Lazio e descobri a D.O.C. de Montecompatri Colonna.


Criada em 1973, Montecompatri Colonna D.O.C. ou apenas Montecompatri ou Colonna D.O.C. se situa na parte central da região do Lazio, na província de Roma.


Produz apenas vinhos brancos, que podem ser secos (secco), frisantes (frizzante), meio-secos (amabile) e até mesmo doces (dolce), com suas variantes (e.g. frizzante amabile), sempre com as devidas indicações nos rótulos. Há ainda um subcategoria Superiore exclusiva para os brancos secos, com aumento do nível mínimo de álcool de 11% para 12%. 


As uvas autorizadas são Malvasia Bianca di Candia; Malvasia del Lazio (esta também chamada de Malvasia Puntinata) em no máximo 70% do corte; Trebbiano Toscano, Trebianno Verde e Trebbiano Giallo (mínimo de 30%), e ainda, em menores quantidades as uvas Bellone e Bombino Bianco (também chamada de Buonvino ou Bonvino), limitadas a 10% do assemblage.


Os dois principais produtores de Montecompatri Colonna são Tenuta Le Quinte e Casale Mattia. 


Foi justamente do primeiro produtor, Tenuta Le Quinte, que degustamos o Virtù Romane, um assemblage de Malvasia Puntinata, Trebianno Verde, Trebbiano Giallo, Bonvino e Bellone. Um vinho de cor amarelo palha, com 14% de álcool, extremamente elegante no nariz com flores, pêssegos, um pouco de menta e noz moscada. Na boca, frutas maduras como pêssego e damasco, com final longo. Uma grata surpresa!


Salute!

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