Château Clinet 1990 e 2010 – Explorando o Pomerol

Terça-feira, 12 de julho de 2022

Pomerol é uma pequena AOC (Appellation d'Origine Contrôlée) no Libournais, região de Bordeaux, e uma das mais prestigiosas apelações da chamada “margem direita”. 


A história da viticultura e da produção de vinhos no Pomerol remonta à ocupação romana. No entanto, o desenvolvimento dessa sub-região bordalesa foi bem distinto das apelações da “margem esquerda” (Saint Julien, Margaux, Paulliac etc.) ou ainda da sua vizinha Saint-Émilion. Sua produção aumentou e diminuiu drasticamente ao longo dos séculos. 


No Pomerol não houve, como no Médoc, influxos de nobres ricos e banqueiros abastados construindo seus grandes châteaux. Ao revés, a região permaneceu com uma paisagem rural, com algumas fazendas, sem grandes mansões.


Os solos de Pomerol são mais “frios” que os solos das apelações da “margem esquerda”, ou seja, têm presença dominante de argila e calcário. São solos mais densos e, por isso, retêm a umidade, não acelerando o processo de amadurecimento das uvas. Em algumas partes, como em um pequeno platô na localidade, há presença de cascalho, e é onde se localizam alguns dos melhores vinhedos. Para o oeste da apelação os solos argilosos (uma argila azul chamada de molasse) são ricos em ferro e conhecidos como crasse de fer, produzindo vinhos complexos.

Por conta desse tipo de solo, Pomerol é o pináculo da Merlot, a principal uva da apelação (80% dos vinhedos). Em geral, a Merlot acaba complementada pela Cabernet Franc e por um pouco da Cabernet Sauvignon. Não raro os vinhos são quase 100% elaborados com a Merlot.  


Por outro lado, Pomerol não conta - ao contrário do Médoc, de Graves, de Sauternes/Barsac e Saint-Émilion – com um sistema de classificação específico. No entanto, alguns dos vinhos mais caros e cobiçados do mundo vêm do Pomerol, como o Château Le Pin e o Château Pétrus.


Apesar disso, o Pomerol costuma guardar bons achados, mesmo de pequenos produtores pouco conhecidos, com preços acessíveis aos reles mortais.

Um dos grandes achados do Pomerol é, sem dúvida, o Château Clinet. Por conta de sua filosofia em manter longas relações com seus apreciadores, o Château Clinet ainda se mostra acessível, entregando uma alta qualidade em seus vinhos, sem preços astronômicos. 


O Château Clinet é um dos mais antigos vinhedos do Pomerol datando de 1785. Após pertencer às famílias Constant e Arnaud (a última proprietária do Château Petrus), de 1900 a 1991 pertenceu à família Audy (négociants e proprietária de diversas vinícolas bordalesas).

No final da década de 1970 Jean Michel Arcaute se tornou o diretor do Château Clinet, que começou a produzir os melhores vinhos em sua história até então. Duas das principais mudanças introduzidas por Jean Michel Arcaute foram a colheita das uvas o mais maduras possível e a diminuição dos percentuais de Cabernet Sauvignon nos vinhos e nas áreas de vinhedos plantados. 


Nessa mesma época, Michel Rolland foi contratado como consultor do Château Clinet ficou até 2014), buscando elaborar vinhos para rivalizar com os melhores do Pomerol. Houve então aumento no uso de barricas novas de carvalho francês e do tempo do vinho em barrica.


Em 1991 o Château Clinet foi vendido para um grupo de seguros, e posteriormente em 1998 foi vendido para a família Laborde, iniciando-se então uma nova era.


A partir da safra de 2004, o jovem Ronan Laborde, abandonando uma promissora carreira de maratonista profissional, passou a gerenciar a propriedade.

Ronan Laborde realizou diversas mudanças, como replantio de 20% dos vinhedos, redução de uso de barricas novas de carvalho francês (de 100% para 60%), expandiu os vinhedos e até mesmo criou uma linha de vinhos mais acessíveis, a Ronan by Clinet.


Atualmente, o Château Clinet conta com 11.5 hectares de vinhedos plantados, com 75% Merlot e 25% Cabernet Sauvignon, com uma mínima quantidade de Cabernet Franc, divididos em 21 parcelas distintas, com vinhas com a média de 45 anos de idade (há algumas bem mais velhas). Dentre essas parcelas, destaca-se a chamada La Grande Vigne, com solos de argila e cascalho no topo, plantada apenas com a Merlot e considerada a melhor de todas, aportando complexidade e profundidade aos vinhos. Nessa parcela estão as mais antigas vinhas da propriedade, com algumas plantadas em 1934. La Grande Vigne representa 20% do vinho Château Clinet, sendo sua espinha dorsal. 

Os solos do Château Clinet são um mosaico de cascalho, argila e solos arenosos ricos em ferro. 


O Château Clinet produz, como normalmente ocorre em Bordeaux, um segundo vinho, o Fleur de Clinet (que antes de 1997 se chamava Domaine du Casse), elaborado já há alguns anos com uvas apenas da propriedade e desclassificadas para o primeiro vinho da vinícola.


Recentemente tive a oportunidade de degustar e comparar duas excepcionais safras do Château Clinet, 1990 e 2010.


O Château Clinet 1990, ainda com o rótulo anterior, da fase de Jean Michel Arcaute e Michel Rolland, mostrou-se incrivelmente complexo, aveludado e elegante, bem concentrado. Apesar dos aromas terciários de terra, trufas, tabaco e ameixa seca e notas de cacau, apresentava o frutado (cerejas, ameixa negras). Nitidamente o vinho conta com mais uma década à frente. 


Já o Château Clinet 2010, com o rótulo novo e considerado um dos melhores produzidos na nova fase inaugurada por Ronan Laborde, mostrou-se, aos doze anos, ainda jovem, com muita fruta negra presente, como ameixas, alcaçuz e nozes. Taninos polidos e aveludados.  


Dois vinhos espetaculares que mostraram a evolução dos vinhos do Château Clinet e o seu estilo.


Uma experiência memorável!


Santé!

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