Carmelo Patti – Uma Lenda Argentina

Quarta-feira, 23 de abril de 2014

Não há como se falar sobre Carmelo Patti sem mencionar que se trata de uma verdadeira lenda da viticultura argentina, um produtor cultuado, até mesmo reverenciado, pelos que conhecem seus vinhos. Não é raro escutar que aqueles que provam os vinhos de Carmelo Patti se tornam fiéis seguidores, e de todas as partes do mundo.


No entanto, para mim Carmelo Patti é mais do que isso, simbolizando nostalgia de um tempo em que iniciava in loco minhas explorações do mundo dos vinhos argentinos, escoltado por amigos argentinos e por meu tio e padrinho que à época morava em Buenos Aires.


Recordo-me do primeiro vinho que degustei de Carmelo Patti, um Cabernet Sauvignon da safra 2000, presente, dentre outras garrafas, de amigos portenhos em meu casamento. Um vinho bem diferente dos vinhos argentinos que até então havia experimentado, normalmente elaborados com Malbec.


Lembro-me não de seus aromas e gosto, mas por seu caráter arrebatador, aquele tipo de sensação que me faz retornar àquele momento toda vez que degusto um vinho de Carmelo Patti.


Por alguns anos, de 2005 a 2010, depois de experimentar o primeiro Carmelo Patti, segui abrindo uma garrafa do mesmo vinho, da safra 2000, no mesmo mês, para verificar a evolução do vinho, aprendendo muito com isso. E, claro, abria em outras oportunidades, de outras safras posteriores, e não apenas o Cabernet Sauvignon, mas também o Malbec e o Gran Assemblage.

Em 2013, escoltado pelos mesmos amigos argentinos que anos antes me haviam apresentado ao “maestro” Carmelo Patti, visitei sua vinícola, a Bodega El Lagar em Lujan de Cuyo, Mendoza.


Recebidos pelo próprio Carmelo Patti, com quem havia agendado a visita por telefone algumas semanas antes, fizemos um rápido tour por suas simples e funcionais instalações.


Em seguida, degustamos alguns vinhos, enquanto escutávamos as belas histórias de Carmelo Patti.


Ali fica bem claro o cuidado e esmero com que Carmelo Patti elabora seus vinhos, com uma bela dose de paixão, sem ceder a quaisquer modismos ou tendências do “mercado”. Ele simplesmente faz os vinhos que gosta de beber, vinho com alma que refletem seu terroir e a própria paixão de quem o faz.


Um dos pontos mais interessante do trabalho de Carmelo Patti reside no lançamento tardio de seus vinhos no mercado, com, pelo menos, quatro, cinco anos. Daí vem sua defesa de que seus vinhos devem ser bebidos depois de dez anos, ou até mesmo mais tempo.

Aliás, já tive o prazer de confirmar a capacidade de guarda e evolução dos vinhos de Carmelo Patti, não apenas pela minha pequena experiência de abrir uma garrafa ao ano, de 2005 a 2010, de seu Cabernet Sauvignon safra 2000, mas também por ter tido a oportunidade de degustar em julho de 2012 um Carmelo Patti Cabernet Sauvignon 1994 e que estava incrível em sua maioridade. Na verdade, esse foi o primeiro vinho próprio de Carmelo Patti, quando começou a trabalhar na Lagarde, antes de fundar sua própria vinícola.


Outro ponto que chama a atenção está no fato de Carmelo Patti não possuir seus próprios vinhedos, comprando de um amigo vinhateiro em Lujan de Cuyo (“acá cerca,” como disse) faz duas décadas e com quem tem apenas um acordo verbal, e nada escrito.


Na visita degustamos os seguintes vinhos: seu raro espumante, elaborado com Pinot Noir e Chardonnay (em nosso grupo apenas uma pessoa conseguiu comprar o vinho, pois estava praticamente esgotado), o Cabernet Sauvignon 2004, o Malbec 2008, e o Gran Assemblage 2004, este último um corte bordalês com prevalência da Cabernet Sauvignon, seguida da Malbec, da Cabernet Franc e da Merlot, e que não é elaborado todo ano. Em 2004, houve um aumento no corte da Cabernet Franc em detrimento da Merlot, em virtude de sua excepcional qualidade naquele ano, segundo o enólogo.

Uma dica legal é pedir ao próprio Carmelo Patti que assine as garrafas compradas (não se esqueça de levar uma caneta própria para isso).


Em uma visita a Mendoza não deixe de visitar o maestro Carmelo Patti, pois seu hospitaleiro objetivo é receber ”a la gente en la bodega, degustando los vinos con ellos y esperando que se lleven una buena impresión”.


¡Salud!

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