Bouchard Père et Fils - Visita e Degustação

Quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Recentemente tive a oportunidade de passar alguns dias na Borgonha, me lançando em uma verdadeira jornada de aprendizado sobre os vinhos dessa complexa e única região. Embora o sistema de denominações da Borgonha possa parecer complicado, ele é lógico, bastando um pouco de tempo para aprender e assim poder navegar por sua miríade de rótulos (leia aqui e aqui).


Baseado em Beaune, no coração da Bourgogne, o primeiro produtor visitado na Côte-d'Or foi a Bouchard Père et Fils, a convite de Luc Bouchard, diretor do domaine e com quem já havia tido a oportunidade de degustar por algumas vezes os Champagnes da Maison Henriot (relembre aqui).

A Bouchard Père et Fils é um dos mais antigos domaines da Borgonha. Fundada em 1731 por Michel Bouchard, iniciando as compras de vinhedos próprios em 1775, ano em que Joseph Bouchard adquiriu seus primeiros vinhedos em Volnay, os célebres Les Caillerets, Les Chanlins e Les Taillepieds.

Posteriormente, durante a revolução francesa e com o confisco das terras da Igreja com sua posterior fragmentação e venda, a Bouchard Père et Fils adquiriu vinhedos em Beaune, entre eles um de seus monopólios mais famosos e prestigiados, o premier cru Beaune Grèves Vigne de l’Enfant Jesus (outras parcelas desse climat foram comprados posteriormente, findando por adquirir sua totalidade em 1909).


Nos séculos XIX e XX a expansão da Bouchard Père et Fils continuou com a aquisição de diversas parcelas de vinhedos em vários pontos da Borgonha, muitas parcelas e climats em vinhedos classificados como Grand Cru (Montrachet, Bâtard-Montrachet, Chevalier-Montrachet, Echezeaux, Clos Vougeot, Chambertin, Corton-Charlemagne, Bonnes-Mares, Le Corton etc...) e como Premier Cru (Beaune Clous de la Mousse, o exclusivo Beaune du Château, Vosne-Romanée - Les Beaux Monts, Chambolle-Musigny Les Noirots, Mersault-Charmes etc...), bem como parcelas de vinhedos classificados como apelações regionais.


Atualmente, a Bouchard Père et Fils, desde 1995 pertencente à tradicional família Henriot (da região de Champagne), é um dos maiores domaines da Borgonha, com propriedades diversificadas, com cerca de uma centena de parcelas em vinhedos nas mais prestigiosas apelações da região. São 130 hectares de vinhedos, sendo 12 hectares de vinhedos classificados como Grand Cru, e 74 hectares de Premier Cru, contando com alguns exclusivos como, por exemplo, os premiers crus Beaune Clos Saint-Landry, Beaune Grèves Vigne de l’Enfant Jesus e Beaune du Château.


A sede da Bouchard Père et Fils se situa desde 1820 no Château de Beaune, uma antiga fortaleza real construída no século XV pelo Rei Luís XI, constando desde 1937 na lista de monumentos históricos franceses. Nesse edifício histórico se situam as caves subterrâneas do domaine, onde os vinhos repousam. Há uma coleção com vinhos antigos e que conta com mais de duas mil garrafas de vinhos do século XIX.


Nossa visita ocorreu em uma agradável manhã ensolarada e fomos recebidos pela simpática Viviana Jaimon, relações públicas da Bouchard Père et Fils, uma argentina radicada na França desde a infância, formada em enologia pela Universidade de Dijon e especialista em vinhos da Borgonha.

Iniciamos nossa visita com uma detalhada explicação sobre o sistema de apelações da Borgonha e as parcelas de vinhedos de propriedade da Bouchard Père et Fils e os diversos vinhos produzidos.


Na sequencia, visitamos as caves da propriedade, a cerca de 10 metros de profundidade, inclusive a histórica coleção de vinhos do domaine. Tivemos a oportunidade de ver os locais onde os franceses esconderam seus vinhos mais preciosos dos invasores nazistas, emparedando os vinhos. O interessante é que não era apenas uma parede, mais duas ou três em sequencia, de forma a que se se quebrasse a primeira, ainda haveria pelo menos mais uma protegendo os vinhos mais valiosos, o grande tesouro da França.


Percorrendo os corredores das caves saímos no jardim da propriedade, do outro lado da rua. E ali, em uma sala perto de uma das torres fizemos uma bela degustação de 18 vinhos, a maioria da Bouchard Père et Fils, mas também com vinhos William Fèvre e da Villa Ponciano, vinícolas também pertencentes ao grupo.


Como normalmente ocorre na Borgonha, começamos pelos vinhos tintos, iniciando por vinhos mais simples de apelação regional, passando pelos vinhos de apelação village, até chegarmos aos premier crus e grand crus.


O que nos chamou a atenção foi o alto nível de qualidade, mesmo nos vinhos mais simples degustados. Tivemos a oportunidade de degustar, entre outros, os premier crus Beaune du Château, Monthélie Clos Les Champs Fulliot e Beaune Grèves Vigne de l’Enfant Jesus, e o Grand Cru Le Corton, dentre os tintos. Já na ala dos brancos, se destacaram dois vinhos da Daomaine William Fèvre, o Premier Cru Chablis Vaillons e o Grand Cru Les Preuses; bem como os brancos da Bouchard Père et Fils Mersault Les Clous, Premier Cru Beaune du Château, Premier Cru Mersault Genevrières e o Grand Cru Corton-Charlemagne. É realmente incrível como uma mesma variedade de uva (Pinot Noir para os tintos e Chardonnay para os brancos) pode resultar em vinhos com identidades tão diversas.


Tudo acompanhado de explicações detalhadas sobre as apelações, características e distinções entre eles, focando no conceito de terroir. Uma verdadeira aula sobre a Borgonha e seus vinhos com que nos brindou Mme. Raimon.


Salut!

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