Bodega Chacra - Vinhos de Terroir

Domingo, 24 de fevereiro de 2013

Domingo passado, início da noite, calor bem desagradável no Rio de Janeiro, daqueles que nos fazem ficar trancados em casa com o ar-condicionado ligado a toda. E não dispunha de nenhum vinho branco na adega por conta do desfalque carnavalesco. O que beber?


Embora seja um entusiasta de vinhos a base de Cabernet Sauvignon, dentre doutros estilos, achei que seria loucura um vinho tinto potente com o calor que fazia, mesmo com o ar-condicionado. A solução? Um belo e elegante Pinot Noir.


Optei, então, por um velho conhecido, um porto mais do que seguro, o Chacra Pinot Noir Treinta y Dos 2006. Como sempre ocorre com os rótulos dessa vinícola argentina, o vinho não decepcionou, muito ao contrário, mostrou-se elegantíssimo, lembrando em muito um belo Borgonha, quiça um Pommard, já maduro, mas sem perder a típica tensão dos bons Borgonhas, com um miríade de aromas. Os 13,5% de teor etílico sequer se pronunciavam dado ao equilíbrio do vinho (na safra 2010 o teor alcoólico diminuiu para 12%, já fruto de um maior conhecimento do terroir local, com a colheita um pouco antes do que o até então usual).


A Bodega Chacra é um daqueles segredos bem guardados, afinal quem apostaria em Pinot Noir argentino? Em que pese os esforços de marketing de nossos vizinhos, não acho que a Patagônia, como um todo, mereça se destacar no mundo dos vinhos por seus Pinots, mas sim muito mais por seus Malbecs. Porém, os vinhos da Bodega Chacra são, sem dúvida, a exceção à regra.

A Bodega Chacra se localiza no norte da Patagônia argentina, no vale do Rio Negro, situado entre a cordilheiras dos Andes e o oceano Atlântico, com vinhedos antigos plantados sem porta-enxertos de videiras americanas (a filoxera não atingiu os vinhedos da região), e com a menor intervenção possível, com pouquíssimo uso de produtos químicos.


A Bodega Chacra pertence a Piero Incisa della Rochetta, da familia proprietária do Sassicaia, um dos ícones italianos. Conta-se que anos atrás Piero Incisa della Rochetta degustou um vinho Pinot Noir oferecido por sua prima a Condessa Noemia Cinzano (ex-proprietária da vinícola Argiano, em Montalcino, na Toscana e proprietária da Bodega Noemia, na Patagônia argentina). Impressionado com o vinho, que pensou ser um Borgonha, Piero, ao saber do local de origem, tratou de adquirir, em 2004, o vinhedo de onde provinha aquele misterioso vinho, um vinhedo abandonado datado de 1932. E assim fundou a Bodega Chacra, comprando posteriormente novos vinhedos nas cercanias, um com vinhas plantadas em 1955 e outro com vinhas de 1967.

Hoje a Bodega Chacra produz quatro rótulos:


1) O Chacra Pinot Noir Treinta y Dos, ícone da vinícola, referindo-se o nome ao ano de plantacão das pimeiras vinhas no vinhedo original, em 1932;


2) O Chacra Pinot Noir Cincuenta y Cinco, também um belíssimo vinho, com uvas provenientes de um vinhedo datado de 1955;


3) O Barda, vinho de entrada da vinícola, produzido com uvas de vinhedos mais jovens, em geral plantados para substituir vinhas mortas dos demais vinhedos da vinícola, de excelente custo-benefício, com qualidade incrível para sua faixa de preço (para ver se uma vinícola é realmente diferenciada, devemos atentar não apenas para os vinhos de alta gama, mas pelos de entrada, onde podemos verificar o cuidado do enólogo e a qualidade do terroir);

4) Mainqué Merlot, um varietal com a uva Merlot que tem apresentado bons resultados na Patagônia.


Consta ainda nos planos da vinícola mais um vinho, o Chacra Pinot Noir Sesanta y Sete, ainda a ser lançado.


Uma bela surpresa para os amantes, ou não, da temperamental Pinot Noir.


Salud!

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