A Intrépida Região de Colares, Portugal

Segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Um dos grande trunfos dos vinhos portugueses reside nas suas diversas castas autóctones, que os tornam únicos em todo o mundo.


Em um país cerca de duas vezes o tamanho do Estado do Rio de Janeiro, ou do tamanho de Santa Catarina, é realmente incrível a miríade de estilos de vinhos produzidos, bem como a quantidade de produtores existentes.


Também surpreende o grande número de regiões vitivinícolas, das maiores e mais famosas como Douro e Alentejo, até as menos conhecidas e que nos reservam verdadeiros tesouros.

Colares, uma das menores regiões vitivinícolas de Portugal, é denominação de origem protegida desde 1908, e foi a segunda região vitivinícola demarcada do país. Situa-se numa zona de dunas, muito próxima ao mar, no Concelho de Sintra, perto da serra, estendendo-se do Cabo da Roca a Magoito.


Os vinhedos dessa pequena região (cerca de 12 a 15 hectares) estão situados em terrenos cobertos de areia próximos ao mar.


Para o plantio das vinhas, extrai-se a areia até se chegar ao solo argiloso, vários metros abaixo. Ali, as vinhas são colocadas entre talas para se enraizarem na argila. As videiras se desenvolvem horizontalmente e rentes ao chão. À medida que a vinha cresce, recobre-se com areia. Para proteger as vinhas da influência marítima direta colocam-se muros de pedras soltas ou com uma espécie de palha seca ou gravetos.

Um trabalho hercúleo, e do qual atualmente se extraem aproximadamente 20 mil garrafas de tintos e 15 mil de brancos, estando a produção concentrada em cinco produtores: Adegas Beira Mar, Adega Regional de Colares, Adega Viúva Gomes e Fundação Oriente.


Os vinhos tintos são elaborados com um mínimo de 80% da casta Ramisco, só encontrada em Colares, complementados por outras cepas como Molar e Castelão.


Já os brancos são elaborados com a Malvasia de Colares, também com um mínimo de 80%.


No entanto, os produtores praticamente produzem vinhos monovarietais ou com percentuais mínimos de 95% com a Ramisco ou com a Malvasia de Colares.


Um detalhe interessante é que as vinhas são todas em pé-franco, ou seja, sem porta-enxertos, justamente por conta do solo arenoso.


Justamente por estarem plantados em terreno arenoso, os vinhedos de Colares não foram atingidos e destruídos pela filoxera em meados do Século XIX, quando a praga se alastrou pela Europa e dizimou inúmeros vinhedos. Foi justamente nessa época que os vinhos de Colares ganharam notoriedade, chegando a haver em 1908 dois mil hectares de vinhedos plantados na região.


Em recente viagem à Portugal visitamos a Adega Viúva Gomes, em Almoçageme, que faz parte da freguesia de Colares, e bem pertinho de Sintra.

 

Recepcionados pelo proprietário, o simpático José Baeta, conhecemos a história dessa vinícola que data de 1808, aprendemos sobre a produção de vinhos de Colares, e, claro, tivemos a oportunidade de degustar alguns vinhos da Adega Viúva Gomes, que além dos Colares tinto e brancos também elabora dois outros vinhos, um tinto e um branco, com denominação regional de Lisboa..


Começamos pelos brancos. Primeiro, degustamos um Patrão Diogo Branco – Regional de Lisboa 2015, elaborado com Fernão Pires, Arinto e Seara Nova, de vinhedos plantados em solo argiloso, o chamado “chão rijo”.

Na sequencia, provamos o Viúva Gomes Branco – Colares DOC 2014, elaborado com a Malvasia de Colares, com notas minerais como sílex e também maresia, com notas salinas e acidez elevada na boca.


Passando aos tintos, iniciamos com o Patrão Diogo Tinto – Regional de Lisboa 2015, também plantado em “chão rijo” e elaborado com as castas Aragonez e Castelão.


Em seguida, degustamos o Viúva Gomes Tinto – Colares DOC 2014. Embora jovem para um Colares tinto, o vinho de cor rubi profundo se mostrava bem complexo, com taninos altos, acidez média alta, com notas balsâmicas, frutas vermelhas, figos secos, um toque de cedro, um pouco de fumo e couro.


Uma curiosidade: os Colares da Adega Viúva Gomes são envasilhados em garrafas de 500ml e não de 750ml. Justamente por conta da minúscula produção.


De se destacar que a Adega Viúva Gomes é aberta ao enoturismo, bastando enviar um e-mail ou telefonar para agendar a visita.


Infelizmente, esse valioso patrimônio viticultura mundial que é Colares está ameaçado. Por conta da forte expansão urbanística na área e a valorização dos imóveis perto do mar, restam muito poucos hectares de vinhedos, nitidamente em ameaça de extinção.


A nós, apaixonados por vinhos, só nos resta torcer para que as autoridades locais adotem providências para estimular a manutenção e até mesmo a expansão dos vinhedos de Colares, protegendo esse patrimônio cultural.


Colares venceu a batalha contra a nefasta filoxera no século XIX, esperemos que esse intrépida região consiga vencer nesse século a batalha contra a especulação imobiliária.


Um brinde à Colares!

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